Críticas a Petra Costa vêm só do Brasil

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Foto: REUTERS/Mario Anzuoni

Em meio à correria, ao glamour e à emoção de estar dentre os indicados a uma das mais cobiçadas estatuetas do cinema, Petra Costa passa por uma avalanche de críticas que questionam a qualidade de seu documentário, a maioria vindas do Brasil. No início dessa semana, o governo brasileiro disse que a cineasta “assumiu o papel de militante anti-Brasil e está difamando a imagem do país no exterior”. Em um dos últimos eventos antes da grande noite do Oscar, ela respondeu às acusações.

“Acho que é inconstitucional que o governo use a Secretaria de Comunicação Social para falar sobre uma cidadã e contra um filme, ainda mais quando todas as informações são checadas e verídicas”, afirmou em entrevista à RFI a diretora de “Democracia em Vertigem”, que concorre ao Oscar melhor documentário.

Nos Estados Unidos, a cineasta chamou à atenção de alguns dos principais meios de comunicação e foi convidada a publicar artigo no The New York Times. Também deu uma longa entrevista à PBS, rede pública de televisão, provocando o ataque do governo brasileiro.

Petra falou à PBS que Bolsonaro estimula “agricultores e madeireiros a invadir reservas indígenas, a queimar e a desmatar a Amazônia”. Ela também repetiu sua acusação de que o presidente brasileiro ataca as minorias. A diretora já havia feito declarações semelhantes antes de ser indicada, mas desta vez o governo Bolsonaro optou por responder por meio do canal oficial de mídia social da Secom, a acusando de disseminar fake news.

“Para mim foi muito revelador saber que a expressão fake news foi primeiramente usada na Alemanha; os nazistas usavam para atacar jornalistas que se posicionavam contra o governo. Então, depois que o secretário de Cultura [Roberto Alvim] citou Goebbels [ministro da Propaganda de Hitler], tudo ficou ainda mais revelador”, declarou Petra. “Eu acho que é um momento importante para toda a comunidade brasileira se posicionar em proteção à liberdade de expressão, porque como dizem a extinção é o preço da omissão”, reiterou.

Petra Costa contou todo o ocorrido ao auditório lotado da sede da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, na noite em que o público é convidado a ouvir os cineastas sobre suas produções. “Acordei e descobri que estava em nos tópicos mais comentados do Twitter, e não no bom sentido”, disse a cineasta que relembrou que o apelido do presidente brasileiro é “Trump dos Trópicos”.

“Democracia em Vertigem” passou por uma seleção com outros 158 documentários do mundo inteiro. Os nomes mais fortes da indústria votaram na produção da brasileira, considerada como uma das cinco melhores do ano. Chegar a essa lista seleta também envolve um trabalho de divulgação intenso, uma campanha política de corpo-a-corpo, para fazer com que o filme seja visto e compreendido. Petra está desde setembro viajando por vários países e encontrando pessoas-chave nessa corrida.

“É um processo de conhecer pessoas e eu tenho conhecido muita gente interessante e que tem muita sensibilidade para o que está acontecendo no Brasil, e que não tinha ideia. Elas puderam, através do filme, receber alguma informação, entender um pouco também do próprio país através de um olhar estrangeiro com essa crise da democracia mundial”, completou.

O último evento antes no Oscar acontece neste sábado (8) quando Petra vai novamente apresentar sua produção, junto a todos os indicados o filme, ao público de Los Angeles. A maratona conta com quase nove horas de filmes.

Concorrem com Democracia em Vertigem” outros dois filmes que mostram a guerra na Síria: “For Sama” e “The Cave”. “Honeyland” – também indicado como Melhor Filme Internacional – conta a história de uma apicultura da Macedônia. Já “Indústria Americana”, primeiro trabalho da produtora de Michelle e Barack Obama, que relata a chegada de uma fábrica chinesa em uma pequena cidade de Ohio, nos Estados Unidos.

O Oscar acontece no próximo domingo (9) a partir das 22h pelo horário de Brasilía.

Rfi