Damares pode ser vice de Bolsonaro em 2022

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Foto: André Coelho/Valor

A ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, passou a ser cotada pelo presidente Jair Bolsonaro como um nome possível para ocupar a vice na chapa de reeleição em 2022, disseram à reportagem duas fontes com quem mantém interlocução direta. Segundo um dos relatos, o tema já foi abordado ao menos superficialmente em conversa do presidente com a ministra.

Assessora parlamentar até o ano passado, Damares é pastora da Igreja Batista da Lagoinha. Não se trata de uma recém-convertida. Seu pai, Henrique Alves Sobrinho, implantou no Brasil 85 templos da Igreja Quadrangular, uma denominação pentecostal de origem americana. Damares ascendeu ao Ministério quando Bolsonaro se afastou do então senador Magno Malta (ES), para representar o segmento evangélico no governo.

A ministra reúne características que agradam ao presidente. Além de conservadora e defensora de valores familiares tradicionais, tem potencial para atingir o eleitorado nordestino e as faixas de renda mais baixa, dois segmentos em que a popularidade de Bolsonaro é mais volátil.

Sem filiação partidária, a titular da pasta de Direitos Humanos poderia ser acomodada na legenda que melhor atendesse aos interesses do presidente, inclusive no Aliança Pelo Brasil, sigla em construção por Bolsonaro e seus aliados próximos, com apoio do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.

Damares reforçou seu vínculo com Bolsonaro em novembro do ano passado, quando passou a divulgar amplamente a campanha de conscientização sobre o início precoce da vida sexual batizada de “Escolhi Esperar”- lançada oficialmente este ano. A ideia da ministra é difundir amplamente o pressuposto de que a abstinência sexual é a medida mais efetiva para prevenir doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez na adolescência, e transformar a proposta em política pública A iniciativa foi muito elogiada por Bolsonaro, segundo uma das fontes ouvidas pelo Valor.

Pesquisas de opinião pública indicam, contudo, que a ministra ainda tem um longo caminho a percorrer antes de se firmar no cenário eleitoral e que está longe, por outro lado, de representar qualquer ameaça a Bolsonaro.

Damares poderia dar ao presidente muito menos votos do que o ministro mais popular do governo, Sergio Moro. Ela conta com 35% de aprovação, ante 54% do ministro da Justiça, segundo pesquisa de opinião realizada entre os dias 7 e 9 deste mês, por meio de 2 mil respostas a convites randomizados (feitos de maneira aleatória, a partir de buscas em sites com temática não relacionada à política). O levantamento é da consultoria Atlas Político e a amostra foi balanceada por um algoritmo para garantir a representatividade.

A rejeição a Damares também é significativa: bate em 47%, dez pontos percentuais a mais que o colega da Justiça. Entretanto, Moro é um parceiro perigoso para Bolsonaro, porque tem uma popularidade maior que a do próprio presidente. Bolsonaro tem aprovação pessoal de 43,5%, segundo o levantamento. Não há precedente no Brasil de vice mais popular que o titular da chapa disputando eleições.

O atual vice, Hamilton Mourão, não tem lugar assegurado na tentativa de reeleição em 2022. O general da reserva apresenta baixa densidade política e representatividade social. Foi escolhido por Bolsonaro de maneira improvisada, depois de terem sido cogitadas várias alternativas. Quando tentou ganhar protagonismo, no começo do ano passado, Morão teve sua trajetória refreada pelos filhos e por aliados do presidente.

O presidente sempre teve no meio evangélico a sua primeira opção para compor a chapa. Ainda na pré-campanha, Bolsonaro anunciou o então senador Magno Malta como seu parceiro na empreitada política, em 2017. Malta preferiu, entretanto, tentar a reeleição ao Senado no ano seguinte, sem sucesso. Em 2019 o presidente voltou a cortejar o segmento, ao afirmar que nomearia para integrar o Supremo Tribunal Federal (STF) alguém de perfil “terrivelmente evangélico”. E o STF, não por acaso, também é o plano A de Sergio Moro, segundo o ministro deixa antever nas raras vezes em que especula sobre seu futuro político.

Valor Econômico