Delator da Lava Jato lucra com delação
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Uma lancha se tornou motivo de discórdia entre um operador financeiro do ex-governador Sérgio Cabral e o empresário que o delatou à operação Lava-Jato, escolhido como fiel depositário do bem após a deflagração da Operação Mascate, em 2017. A defesa do ex-agente fazendário Ary Filho pediu à Justiça Federal do Rio a restituição da lancha de seu cliente, hoje sob a guarda do empresário Luiz Alexandre Igayara.
Igayara foi utilizado por Ary como laranja na aquisição da embarcação e, segundo os advogados do real comprador, passou a disponibilizá-la para locação em Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio de Janeiro, em vez de zelar para impedir a deterioração do barco. O responsável por julgar o pedido é o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal.
No acordo de delação firmado com o Ministério Público Federal (MPF), Igayara admitiu que seu nome foi utilizado por Ary para a compra da lancha. O acordo firmado previa que a embarcação permanecesse sob os cuidados do delator, sem que fosse desvalorizada. Ela foi avaliada em R$ 1 milhão.
A “Du Brasil I” possui duas suítes, dois banheiros, salas de estar e televisão e bar completo. De acordo com a defesa de Ary Filho, um anúncio online mostra a possibilidade de alugar o barco por R$ 7,8 mil durante o período de apenas oito horas.
Nos cálculos do escritório das advogadas Fernanda Pereira da Silva Machado e Millena Cristina Pereira da Silva, Igayara pode ter se beneficiado com até R$ 1,17 milhão por meio das locações. Desde que ele se tornou fiel depositário, a lancha rodou mais de 1.200 horas (equivalentes a 150 diárias). De acordo comas advogadas, a embarcação foi alugada ininterruptamente ao longo de 23 meses.
O pedido inclui, entre as provas da situação da lancha, documentos e testemunhas, além de notícias publicadas pela coluna do jornalista Lauro Jardim no GLOBO e pelo site da revista “Crusoé”. Em novembro do ano passado, o colunista noticiou a existência do anúncio na internet. A página segue disponível até hoje e ainda inclui duas opções de roteiro pré-programados: o de Ilha Grande e o de Angra dos Reis, custando R$ 12,3 mil e R$ 10,8 mil respectivamente.
A sentença relativa ao processo originado da Operação Mascate, proferida por Bretas em outubro de 2017, rendeu a Cabral sua terceira condenação na Lava-Jato (hoje, o político acumula outras dez). Além dele, Ary Filho recebeu pena de nove anos e quatro meses de prisão. Os crimes envolviam decisões da Secretaria Estadual da Fazenda. No esquema, empresários pagavam propinas em troca de benefícios como perdão de multas e isenções fiscais. Os três entraram com recursos que ainda não foram julgados em segunda instância.
Entre outras providências, os advogados pedem que Bretas autorize uma perícia na lancha e que obrigue Igayara a restituir todos os valores referentes aos aluguéis. Também há uma solicitação para que o delator sofra sanção por “ato atentatório à dignidade da justiça ao depositário”.