Deputados bolsomínions não querem apoiar Crivella

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Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Apesar da troca de afagos públicos entre o presidente Jair Bolsonaro e o prefeito do Rio Marcelo Crivella (Republicanos) durante um evento evangélico no último sábado, deputados bolsonaristas evitam embarcar na campanha de Crivella à reeleição. Com gestão reprovada por 72% dos cariocas, segundo dados de dezembro do Datafolha, o prefeito ainda é visto com reservas pelo grupo mais fiel a Bolsonaro, cujo plano de emplacar candidatura própria no Rio esbarra na briga interna do PSL e na dificuldade para criar o Aliança pelo Brasil a tempo das eleições municipais.

Neste ano, dois movimentos de aproximação tiveram como pano de fundo o eleitorado evangélico, segmento em que tanto Bolsonaro quanto Crivella são bem avaliados. Em janeiro, o presidente compareceu a uma solenidade organizada pelo prefeito no Palácio da Cidade, sede do governo carioca, com lideranças religiosas. No fim de semana, na festa dos 40 anos da Igreja Internacional da Graça de Deus, Bolsonaro abraçou e dançou com Crivella enquanto o pastor R.R. Soares cantava diante de uma multidão.

Deputados bolsonaristas que vêm trabalhando para criar o Aliança têm evitado ataques a Crivella, mas admitem que procuram uma candidatura com menor rejeição. Para a base de apoio ao presidente, também pesa o fato de o prefeito ter sido ministro da Pesca no governo Dilma Rousseff (PT).

— Vamos optar por um candidato conservador. Hoje, é o Crivella. Mas ainda não podemos descartar uma candidatura própria. Ainda tem muita água para rolar — disse o deputado estadual Filippe Poubel (PSL), que espera concorrer à prefeitura de São Gonçalo pelo Aliança ou “outro partido indicado pela família Bolsonaro”.

Crivella intensificou o movimento de aproximação com Bolsonaro no fim do ano passado, após os conflitos do presidente com o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), e com seu próprio partido, o PSL. O prefeito alimentou atritos com Witzel desde então e defendeu publicamente o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho mais velho do presidente, após uma operação de busca e apreensão do Ministério Público (MP-RJ) na investigação sobre a suposta prática de “rachadinha”.

— Para o Crivella, o apoio do presidente é fundamental — afirma Poubel.

Enquanto a equipe do prefeito aposta em uma “neutralidade relativa” de Bolsonaro — isto é, que os gestos do presidente atraiam votos mesmo sem uma aliança formal —, outros candidatos bolsonaristas disputam o mesmo eleitorado. O deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), que também busca o apoio de Bolsonaro, publicou um vídeo com imagens do presidente e parabenizou sua presença no evento de sábado. A gravação termina justamente quando o pastor R.R. Soares anuncia a música “Volta da Vitória”, canção que Crivella e Bolsonaro dançaram abraçados. Otoni, que é pastor da Assembleia de Deus na Barra da Tijuca, evitou a solenidade organizada em janeiro na sede da prefeitura com líderes evangélicos.

Pré-candidato do PSL no Rio, o deputado estadual Rodrigo Amorim aumentou a frequência de críticas a Crivella nas redes sociais e mira o eleitorado bolsonarista mesmo sem o apoio formal da família do presidente. Parte da estratégia de Amorim é lembrar a participação de Crivella no governo Dilma, de olho antipetismo da militância.

— Não existe divisão (do bolsonarismo). Ou apoia o pior prefeito da história, que matou centenas de pessoas com políticas catastróficas e a crise na Saúde, ou vota para mudar o Rio — disse o deputado estadual Alexandre Knoploch (PSL), articulador da pré-campanha de Amorim.

Considerada uma das parlamentares mais próximas à família Bolsonaro, a deputada estadual Alana Passos (PSL) passou a ser recebida com frequência por Crivella. Alana também posou com o prefeito em um evento de coleta de assinaturas do Aliança, no Rio, no último dia 1º. Ela integra a parte da bancada do PSL na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) que prometeu migrar para o Aliança.

Um dos integrantes do grupo é o também deputado estadual Márcio Gualberto, que se lançou como pré-candidato a prefeito e chamou Crivella de “mais do mesmo” em publicação nas redes sociais em outubro. Procurada pelo GLOBO, Alana não quis se manifestar sobre apoio a Crivella.

Diante da alta taxa de reprovação do prefeito Marcelo Crivella, pré-candidatos à prefeitura do Rio tentam evitar a nacionalização da campanha — com a presença de figuras como o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — e privilegiam os problemas locais.

Lula deve apoiar o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), embora uma candidatura própria do PT não esteja descartada, enquanto Crivella tem recebido afagos de Bolsonaro. Sem o apoio dos nomes que polarizam a política nacional, candidatos como o ex-prefeito Eduardo Paes e a deputada estadual Martha Rocha devem alternar o apelo a lideranças partidárias, como Ciro Gomes (PDT) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), com um discurso que fuja da rejeição associada a Lula e a Bolsonaro. Segundo pesquisa Datafolha, em dezembro, 60% dos eleitores dizem que não votariam em candidatos apoiados por eles.

Em publicações nas redes sociais e agendas pontuais — na última quarta-feira, por exemplo, foi a um encontro de mulheres do DEM —, Paes tem ignorado temas nacionais e centrado seu discurso em críticas a Crivella. Já o papel de Maia na campanha deve se concentrar nos bastidores. O presidente da Câmara já atua na busca de apoios do governador Wilson Witzel (PSC) e do PSDB, comandado pelo governador de São Paulo, João Doria. Maia tem feito contraponto recorrente a Bolsonaro e defende a união do centro nas eleições de 2022.

Já a deputada Martha Rocha (PDT), que vem rechaçando a possibilidade de ser vice na chapa de Freixo, classificou a polarização entre Lula e Bolsonaro como uma “discussão insana”. Martha diz que é necessária uma candidatura “de terceira via, com capacidade de gestão e comportamento ético”. Ela vê como positiva e “legítima” uma eventual presença em seu palanque de Ciro Gomes, já tratado pelo PDT como pré-candidato para as eleições presidenciais de 2022.

— Ciro morou no Rio por mais de 15 anos. Conhece a cidade e seus problemas. A importância de lideranças nacionais não pode ser maior do que a relevância das questões locais — afirmou Martha.

Por causa do distanciamento do presidente Jair Bolsonaro, o deputado estadual Rodrigo Amorim, pré-candidato pelo PSL, também tem concentrado seus ataques a Crivella. Amorim, que fez sua campanha eleitoral de 2018 se apresentando como “soldado disciplinado de Flávio Bolsonaro”, filho mais velho do presidente, reduziu neste ano a frequência com que se refere ao clã nas redes sociais. Segundo um aliado, a estratégia é buscar um eleitorado mais à direita, também cobiçado por Crivella, sem depender da associação ao presidente.

O Globo