MIT desmente OEA e diz que não houve fraude nas eleições da Bolívia
Foto: GASTON BRITO / REUTERS
Um artigo publicado nesta quinta-feira pelo jornal Washington Post, escrito por especialistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), afirma que não há evidências científicas que indiquem que houve fraude na eleição de 20 de outubro na Bolívia, que deram vitória ao ex-presidente Evo Morales . No artigo, John Curiel e Jack R. Williams, do Laboratório de Ciência e Dados Eleitorais do MIT, dizem que a análise estatística e as conclusões de um relatório da Organização dos Estados Americanos (OEA), principal fonte de apoio a denúncias de fraude que culminaram com a renúncia de Morales, “parecem profundamente falhas”.
“Não há evidências estatísticas de fraude que possamos encontrar: as tendências na contagem preliminar, a falta de um grande salto no apoio a Morales após a interrupção [dessa contagem] e o tamanho da margem de Morales parecem legítimos”, escreveram no Post.
A auditoria da OEA foi acertada pelo governo de Morales depois que a suspensão da contagem rápida no dia da eleição, quando 84% dos votos estavam computados, levou a oposição a denunciar fraude na apuração. Na contagem rápida, adotada por sugestão da OEA, fotos digitais das cédulas de votação — na Bolívia o voto é manual — são enviadas para contabilização. Quando ela foi retomada, no dia seguinte, a margem de Morales era de 9,3%.
Um resultado preliminar da auditoria, divulgado no dia 10 de novembro, apontou irregularidades “muito graves” no pleito e recomendou que ele fosse anulado. Morales, que fora proclamado vencedor em primeiro turno, chegou a convocar novas eleições depois da divulgação do informe, mas acabou renunciando no mesmo dia, após um ultimato dos militares.
Segundo a legislação boliviana, para vencer em primeiro turno o candidato deve ter ao menos 40% dos votos, com no mínimo 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado. A contagem preliminar, conhecida como Trep, foi interrompida quando Morales tinha uma vantagem de 7,87 pontos percentuais sobre o ex-presidente Carlos Mesa, o segundo colocado.
À época, os auditores da OEA se debruçaram principalmente sobre a contagem rápida. Eles afirmaram que “nos últimos 5% dos votos [dessa contagem], Morales aumentou a média de votos em 15% (…), enquanto Mesa caiu em uma proporção praticamente igual”, um “comportamento muito incomum”. Embora não mencionasse a palavra “fraude”, o informe concluiu que era possível que Morales tivesse ganhado, mas improvável que pudesse evitar um segundo turno.
Na época, os apoiadores de Morales afirmaram que os últimos votos vinham de zonas rurais, seu reduto eleitoral. Dias depois, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, disse em uma sessão extraordinária que Morales havia cometido “fraude eleitoral”.
Os pesquisadores do MIT, por sua vez, chegaram à conclusão de que “não houve diferença estatisticamente significativa na margem [sobre o segundo colocado] antes e depois da interrupção da contagem preliminar” e que é “altamente provável que Morales tenha ultrapassado a margem de 10 pontos percentuais no primeiro turno”. Segundo eles, as premissas que basearam a conclusão da OEA — de que a contagem rápida reflete a votação no momento em que ela acontece e de que a preferência dos eleitores não varia ao longo do dia — não estão apoiadas em pesquisas ou evidências na Bolívia ou outros países.
“Se a conclusão da OEA fosse correta, esperaríamos que a margem de votação de Morales tivesse um pico logo após a suspensão da contagem preliminar — e a margem sobre seu concorrente mais próximo seria muito grande para ser explicada por seu desempenho antes da contagem preliminar ser interrompida. Poderíamos esperar encontrar outras anomalias, como mudanças repentinas nos votos de Morales em departamentos (estados) que antes eram menos inclinados a votar nele”, escreveram eles.
Curiel e Williams dizem não ter encontrado essas anomalias, e que descobriram uma correlação de 0,946 entre as margens de Morales em diferentes seções antes e depois da interrupção da contagem. Os especialistas afirmam ainda que fizeram 1.000 simulações para checar se era possível prever a diferença entre Morales e Mesa usando apenas os votos verificados antes da contagem preliminar ser interrompida. Nas simulações, chegaram à conclusão de que Morales poderia esperar uma vantagem de pelo menos 10,49 pontos sobre seu adversário mais próximo.
Os pesquisadores disseram ter entrado em contato com a OEA para que comentasse o resultado de sua pesquisa, mas não tiveram resposta.
A Bolívia terá novas eleições em 3 de maio. O candidato do ex-presidente, Luis Arce , lidera as intenções de voto para o primeiro turno, com 32%, à frente de Mesa, que é de novo candidato, e da autoproclamada presidente interina, Jeanine Áñez.