Moro saiu por cima de Bolsonaro, dizem analistas
Foto: Adriano Machado/Reuters
Parlamentares que tentam se firmar como defensores da Lava Jato e do combate à corrupção dizem ver o ministro Sérgio Moro fortalecido após a polêmica sobre a recriação do Ministério da Segurança Pública no fim de janeiro. Eles buscam se afastar de Bolsonaro e criticam ações do Executivo que podem afetar o combate à corrupção.
Parte dos “lavajatistas” integra o Podemos, que, durante o recesso, entrou com três Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra medidas aprovadas pelo Congresso e sancionadas por Bolsonaro vistas como ataques a avanços da Lava Jato: o juiz de garantias, o fundo eleitoral e a lei de abuso de autoridade. “São ações nossas que divergem da ação do governo”, disse o senador Alvaro Dias (PR), líder do Podemos e candidato derrotado à Presidência em 2018.
Segundo o deputado José Nelto (Podemos-GO), líder do partido na Câmara, Bolsonaro está “deixando a desejar” na agenda de combate à corrupção. Além da criação do juiz de garantias, ele citou como exemplos a retirada do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) da alçada de Moro e a tentativa do presidente em interferir na troca de comando da Polícia Federal.
“O Podemos não é governo, não tem cargo no governo. Somos um partido legalista”, afirmou. “Sinto que tem gente na Câmara, no governo e no Judiciário querendo abafar e acabar com a Lava Jato.” Apesar de tentar se distanciar de Bolsonaro, o Podemos acompanhou o governo na maior parte dos projetos. Segundo o Basômetro, ferramenta do Estado que mede o grau de governismo de parlamentares e partidos, o Podemos votou favoravelmente ao governo em 82% das votações na Câmara no ano passado.
Frequentemente, o Podemos é especulado como um possível destino de Moro caso o ministro decida se filiar a algum partido. Dias refutou que haja tratativas. “Queremos ajudá-lo a cumprir uma missão e a executar um projeto de combate à corrupção do País. Não queremos atrapalhar, então nunca especulamos”, disse. “Evidentemente, se um dia o ministro cogitar se filiar a algum partido será muito bem-vindo”, afirmou.
Segundo o cientista político da UFMG Felipe Nunes, a atuação dos parlamentares pró-Lava Jato tem, como pano de fundo, as eleições. “Os deputados e senadores do Podemos têm uma agenda de segurança pública muito voltada à sua base”, disse. Para Nunes, há uma tentativa do partido de atrelar sua imagem ao ministro da Justiça. “O Moro é um rival como liderança política ao presidente Bolsonaro e ele tem se transformado em um ator blindado por certos grupos.”
Outro senador alinhado à pauta anticorrupção e ao ministro Moro, Alessandro Vieira (Cidadania-SE) também criticou o movimento de tentar separar a Segurança Pública do ministério do ex-juiz. “Sem dúvida nenhuma atrapalharia porque você tem uma estrutura que está funcionando e está dando resultado e vai gastar energia e dinheiro para criar uma nova estrutura”, afirmou.
Apesar de ter gerado críticas de deputados e senadores “lavajatistas”, a iniciativa aventada por Bolsonaro de esvaziar a pasta de Moro não gerou grande repercussão negativa no Twitter. Levantamento feito pela Consultoria Quaest, a pedido do Estado, mostra que no dia 23 de janeiro, quando o presidente deu a declaração de que a medida estaria sendo estudada, houve picos de menções ao assunto segurança pública entre parlamentares “lavajatistas”, principalmente do Podemos, mas uma potencial onda críticas ao presidente foi contida.
Membros “bolsonaristas” do PSL, como os deputados Eduardo Bolsonaro (SP), Carla Zambelli (SP) e Bia Kicis (DF) saíram em defesa de Bolsonaro e fizeram o nome do presidente ser mais mencionado que o próprio assunto da cisão das pastas. A principal estratégia utilizada foi atribuir a sugestão aos secretários estaduais de segurança e governadores.
A declaração de Bolsonaro de que a separação da Segurança Pública da pasta da Justiça seria estudada pelo governo foi dada após ele ter se reunido com secretários de segurança dos Estados.