O que está por trás das ações golpistas de Jair Bolsonaro
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Apesar da gravidade da atitude do presidente, o estímulo ao ato que está sendo convocado por forças bolsonaristas para o dia 15 de março para tentar emparedar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal para submeter estas instituições aos seus planos e tentar calar a imprensa crítica aos seus atos, me parece mais um ato dentro da estratégia dele de radicalizar contra as instituições democráticas, incluindo as da sociedade civil como a imprensa e universidades, ação que o elegeu ao dar aparência que sua candidatura era anti-sistema. Bolsonaro e seus estrategistas usam bem a insatisfação popular contra as mazelas e exageros do sistema político (corrupção, mordomias, cargos, carros, viagens etc). Ao atacar o Congresso e o STF ele mantém sua turba com o ódio à flor da pele e a favor das suas maluquices autoritárias. Foi assim como deputado e como candidato com seus ataques machistas, homofóbicos e adoração à torturadores e milicianos. Foi num crescendo e chegou onde chegou.
É evidente que essa estratégia visa também normalizar os atos fascistas. Ele tem os rompantes, depois recua e parte do povo acha que ele faz de brincadeira ou porque “diz o que pensa”, em jogo perigoso com o objetivo de escamotear as reais intenções da famílicia, que é implantar um governo de criminosos tendo como base a milícia carioca.
Bolsonaro e filhos foram criados nesse ninho e formam o braço político desse esquema. A articulação nacional das milícias entranhadas nas PMs estaduais hoje é a maior ameaça ao estado brasileiro como foi visto no Ceará e na eliminação do miliciano Adriano ocorrida na Bahia. Seu braço econômico visa a legalização das atividades de extorsão das milícias, a mineração criminosa nas terras indígenas, a volta e legalização dos cassinos e outros negócios.
A estratégia dos Bolsonaros visa também desviar a atenção das consequências nefastas das medidas econômicas que seu governo vem realizando através do ministro Paulo Guedes, como o aumento dos empregos informais e precários e diminuição dos empregos com carteira assinada, diminuição das reservas cambiais, desvalorização do Real diante do dólar, fraco crescimento da economia e aumento da pobre e da miséria com o enfraquecimento das políticas de proteção social.
A reação a esses arroubos e ameaças autoritários dos Bolsonaros deveria partir primeiro das instituições democráticas, do próprio Congresso Nacional e STF. Mas, o que esperar daí, uma vez que parcela importante de seus membros articulou e mobilizou para dar o golpe em 2016, tendo Sergio Moro à época como o grande exemplo de “combate à corrupção” e às “coisas erradas”?
Não vamos nos iludir: as ditas forças progressistas no Brasil estão fracas. Não que não possam se reaglutinar e se fortalecer, pois a maioria da sociedade não quer ditadura e o fim da democracia. Mas precisam resistir e vencer a cooptação, a corrupção e os interesses rentistas exercidos pelos extremistas do neoliberalismo que querem, o mais rápido possível, privatizar tudo que é estatal, desregulamentar todo o sistema legal e social que ainda garante o mínimo de civilidade entre as classes sociais e tomar conta por completo das riquezas minerais e naturais do País.
Sim, há movimentos de resistência como os que fizeram os petroleiros cuja greve foi suspensa para negociações, os atos das mulheres no 8 de março e a greve geral convocada pelo povo da Educação e do funcionalismo público para o dia 18/03. Estes atos e movimentos precisam ser reforçados e potencializados. Há Lula animando o povo e dando o tom para a luta e há os partidos políticos de esquerda a organizar a resistência democrática e institucional contra o desmonte das políticas públicas e na defesa do Estado Democrático de Direito. Há também os protestos de todos os tipos como os vistos neste Carnaval.
Mas, é preciso uma reação maior, urgente, com todas as instituições, personalidade e forças democráticas e progressistas em atos e gestos que deem um basta nestes crimes contra o que resta da nossa Constituição, senão as ameaças de hoje se consolidarão num plano concreto de volta de uma nova ditadura, tão desejada pelos bolsonaros e seus fiéis e lunáticos apoiadores.