
PF de SP acusa Alckmin
Foto: Paulo Whitaker/Reuters
O delegado da Polícia Federal Milton Fornazari pediu ao promotor de Justiça de São Paulo, Ricardo Manuel Castro, o compartilhamento de provas de uma ação civil pública contra o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) por supostos R$ 7,8 milhões da Odebrecht, em caixa dois, para a campanha eleitoral de 2014. Castro pediu à juíza Luiza Barros Rozas Verotti, da 13.ª Vara da Fazenda Pública da Capital, que os documentos sejam enviados à PF.
Nesta ação, além dos depoimentos da delação da Odebrecht, que já estão desde 2018 nas mãos da Polícia Federal, o promotor anexou áudios de ligações telefônicas e mensagens sobre supostas entregas de dinheiro do doleiro Álvaro José Novis, usado pela empreiteira para pagamento de propinas.
Os diálogos apontam Sebastião Eduardo Alves de Castro, ex-assessor da Secretaria de Planejamento do governo Alckmin, como intermediário para receber as remessas da empreiteira.
A ação na esfera civil tem como objetivo recuperar suposto prejuízo aos cofres públicos, além de buscar a cassação dos direitos políticos dos investigados. Já o inquérito conduzido por Fornazari mira suposto crime eleitoral, e foi aberto em 2018.
À época, o STF ainda não havia decidido que crimes comuns conexos com caixa dois ficariam com a Justiça Eleitoral. Mesmo assim, a ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça, mandou o caso para a Justiça Eleitoral, tirando antecipadamente o caso das mãos da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo. A determinação acolheu pedido do subprocurador-geral Luciano Mariz Maia.
No sistema adotado pela Odebrecht, a empreiteira fazia pagamentos para o doleiro, que seria responsável por disponibilizar dinheiro a ser repassado aos políticos. Novis gravava todas as ligações de sua corretora, a Hoya. Em uma delas, seu funcionário conversa com o ex-assessor do governo Alckmin, em 2014.
TELEFONEMA:
Sebastião Eduardo Alves de Castro: Alô
Emissário: Eduardo?
Castro: é
Emissário: Eduardo Castro?
Castro: Isso mesmo, Eduardo Castro
Emissário: Fala, meu amigo, tudo bem? tranquilo? É que nós temos uma reunião marcada de 11h às 15h e eu já mandei o pessoal para a reunião e estão no local.
Castro: Ah, tá bom, eu aguardo na porta então.
Emissário: Mas você já está aí no endereço certo?
Castro: estou, estou aqui.
Emissário: tá, então, por favor, eles estão aí.
Castro: Ah, tá bom, estou indo lá. Até já então.
Além disso, mensagens internas da Transnacional, empresa de transporte de valores usada pelo doleiro, mostram o endereço de Sebastião, na Rua Manguatá, em São Paulo, como local de destino de diversas entregas de dinheiro. Antes das entregas, os funcionários da transportadora conversavam pelo aplicativo Skype.
Alves de Castro foi assessor do ex-secretário de Planejamento de Alckmin e tesoureiro da campanha do tucano, Marcos Monteiro, também alvo da ação. Ele entrou na mira da Promotoria após o Estado revelar que seu endereço e seu celular são citados em conversas entre funcionários Transnacional, transportadora de valores usada por doleiros da Lava Jato para entregar dinheiro vivo.
Em ação civil pública, o promotor de Justiça Ricardo Manuel Castro enumerou supostas entregas de R$ 4 milhões da Odebrecht a Sebastião Eduardo Alves de Castro. Sob as senhas ‘formiga’ (R$ 1 milhão), ‘tesoura’ (R$1 milhão), ‘marceneiro’ (R$ 500 mil), ‘bolero’ (R$ 500 mil), ‘árvore’ (R$ 500 mil) e ‘cimento’ (R$ 1 milhão), entregas em dinheiro vivo teriam sido feitas na casa dele.
À época, o promotor pediu bloqueio de R$ 42 milhões de Sebastião, que está no banco dos réus ao lado de Alckmin, Marcos Monteiro e executivos da Odebrecht.