Setor industrial sofre contração histórica na China
Foto: Noel Celis/AFP
A atividade industrial da China apresentou a contração no ritmo mais rápido da História neste mês de fevereiro. O resultado chega a ser pior do que os impactos para o setor durante a crise financeira global de 2008, uma vez que o cenário atual é penalizado pelos danos colossais causados pelo surto de coronavírus.
O Índice de Gestores de Compras (PMI, na sigla em inglês, que mede a atividade manufatureira) oficial da China caiu para um recorde de 35,7 em fevereiro, ante 50 em janeiro, informou o Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, sigla também em inglês) do país neste sábado, bem abaixo da marca de 50 pontos que separa a avaliação de crescimento e contração.
Analistas consultados pela Reuters esperavam que o PMI de fevereiro chegasse a 46.
Os dados mais recentes fornecem o primeiro indicativo oficial do real estado da segunda maior economia do planeta desde o início da emergência global de Covid-19 (doença causada pelo coronavírus), que matou quase 3 mil pessoas na China continental e infectou cerca de 80 mil.
Os dados permitem a leitura de que o abalo econômico do vírus provavelmente se estenderá por todo o primeiro trimestre de 2020, uma vez que a doença causou restrições generalizadas de transporte e exigiu medidas de saúde pública difíceis que impactaram profundamente a atividade econômica.
“Esperamos que o crescimento anual de todos os dados de atividades seja negativo em janeiro-fevereiro, já que a economia da China está severamente restringida desde 23 de janeiro”, disseram analistas do banco japonês Nomura em nota após a divulgação do PMI, citando o prolongado Ano Novo Lunar e a lenta retomada dos negócios por conta da disseminação do vírus.
O Nomura agora espera que o crescimento no primeiro trimestre seja de 2% em relação ao ano anterior, enquanto a Capital Economics estima que a economia da China contrairia totalmente em termos anuais neste trimestre, a primeira vez desde pelo menos a década de 1990.
Um sub-índice da produção industrial caiu para 27,8 em fevereiro, ante os 51,3 de janeiro, enquanto a leitura de novos pedidos caiu para 29,3, ante 51,4 no mês anterior.
Os novos pedidos de exportação recebidos pelos fabricantes chineses também caíram no ritmo mais rápido dos últimos anos, com o alerta da NBS sobre a crescente pressão sobre os exportadores por atrasos nos embarques e cancelamentos de pedidos.
As condições de trabalho permaneceram rígidas em meio a restrições de viagens, com uma sub-leitura de emprego que caiu de 47,5 para 31,8.
Os analistas estão alertando que a disseminação do coronavírus para outros países afetará as cadeias de suprimentos globais e limitará a recuperação dos fabricantes chineses.
“Mesmo que a escassez de mão de obra na China comece a diminuir, algumas fábricas podem ter problemas para retomar a produção normal se surtos em outros países significarem que eles têm problemas para suprir bens intermediários”, disse Julian Evans-Pritchard, economista sênior da Capital Economics na China. na sexta.
Economistas do Morgan Stanley alertaram para um impacto pronunciado no crescimento global do primeiro trimestre, com riscos crescentes de se estender para o segundo trimestre.