Witzel tenta aumentar verba eleitoral durante carnaval

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Foto: Agência O Globo

Sem as presenças do prefeito Marcelo Crivella e do presidente Jair Bolsonaro, o governador do Rio, Wilson Witzel, tentou explorar na Marquês de Sapucaí o papel de anfitrião do carnaval carioca. Witzel recebeu, no camarote do governo do estado, o governador de São Paulo, João Doria, e deputados federais de outros estados, além de ter chancelado uma candidatura do PSC para concorrer contra Crivella à prefeitura do Rio neste ano.

O saldo eleitoral do movimento, porém, é incerto. Em um ano marcado por desfiles críticos a políticos, com referências indiretas a Crivella e Bolsonaro, Witzel acabou atraindo atenção indesejada em um “teste de popularidade” que terminou com vaias das arquibancadas no domingo, durante o desfile da Mangueira. Antes da entrada da escola verde e rosa, o nome de Witzel já tinha sido vaiado ao ser citado entre os agradecimentos. Crivella e Bolsonaro não foram mencionados diretamente nos discursos de abertura dos desfiles do Grupo Especial.

A recepção de Witzel a Doria reforçou a aproximação entre os governadores, que ensaiam apoios a candidaturas nas eleições municipais deste ano numa tentativa de se contrapor ao bolsonarismo. Nesta segunda-feira, Witzel afirmou que um dos pré-candidatos do seu partido, o PSC, no Rio é o economista Paulo Rabello de Castro, que já foi diretor no Grupo Lide, de Doria, além de presidente do BNDES. O governador vinha alimentando antes a candidatura da desembargadora eleitoral Glória Heloíza Lima Silva, que também esteve na Sapucaí, mas não foi vista no camarote do governo do estado.

Além de Doria, o camarote de Witzel recebeu deputados federais de outros estados, como Delegado Waldir (PSL-GO), que protagonizou um embate com Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) no ano passado, e Covatti Filho (Progressistas-RS). O camarote também recebeu nomes ligados ao Judiciário. Uma ausência, porém, foi a do juiz Marcelo Bretas, que foi ao camarote em 2019, mas não recebeu convite neste ano. Bretas tem se aproximado de Bolsonaro nos últimos meses.

— O governador não deu caráter político ao camarote. Todos viram que ele passou as quatro noites acompanhando os desfiles ao lado da primeira-dama, o que ele gosta muito — disse o secretário de Casa Civil André Moura.

Assim como em 2019, em seu primeiro ano de governo, Witzel recebeu poucos deputados estaduais em seu camarote — embora tenha, segundo ele, convidado a todos. Em meio às atenções do governador à política nacional, apenas oito dos 70 deputados da Alerj foram vistos no camarote de Witzel.

— Ele está fazendo política da forma errada. Há muitos deputados aqui, mas não passam perto do camarote do governo. Falta ter um pouco mais de “carinho” — afirmou um parlamentar.

Rompido com Witzel, o deputado federal do PSC Otoni de Paula, que busca — assim como Crivella — o apoio de Bolsonaro para concorrer à prefeitura do Rio, acompanhou a primeira noite do Grupo Especial. Otoni aproveitou a passagem na Sapucaí para criticar Crivella e o próprio Witzel.

Motivo de críticas, a ausência de Crivella em mais um ano de desfiles na Sapucaí foi compensada pelo movimento constante de alguns de seus secretários. Felipe Michel, titular da secretaria de Envelhecimento Saudável, Qualidade de Vida e Eventos, circulou pela avenida no primeiro dia do Grupo Especial exibindo uma bola de futebol com o logotipo da prefeitura. Na segunda-feira, Michel escoltou o ex-jogador Ronaldinho Gaúcho, ídolo de clubes como PSG e Barcelona, enquanto passava pela área comum da Sapucaí. O secretário deu abraços e trocou risadas com o jogador enquanto Ronaldinho respondia cumprimentos do público.

Já o secretário municipal de Cultura, Adolpho Konder, circulou pela concentração das escolas de samba no primeiro dia de desfiles. Konder, que já foi secretário da gestão Eduardo Paes — um dos possíveis adversários de Crivella na eleição de 2020 —, minimizou a ausência do prefeito e chegou a defender Witzel das vaias, afirmando “todas as autoridades merecem respeito”.

— O prefeito, ao que parece, tem acompanhado tudo pelo Centro de Operações (COR). O carnaval tem uma importância fundamental para a prefeitura. É uma grande atividade cultural, que envolve muita criativdade e traz muitos turistas — disse Konder.

Entre os pré-candidatos à prefeitura do Rio, Paes também foi uma ausência notada. O ex-prefeito do Rio costumava entrar na Sapucaí com a Portela. Já o pré-candidato pelo PSOL Marcelo Freixo marcou presença no primeiro dia do Grupo Especial e reagiu com ironia ao ser acusado por assessores de Witzel de incitar uma vaia contra o governador.

— Eu não sabia que tinha essa capacidade. Nem se eu quisesse ia conseguir algo do tipo. Obviamente foi uma reação espontânea — disse Freixo.

Dois de seus colegas de partido, o vereador Tarcísio Motta e o deputado federal David Miranda, também compareceram à Sapucaí. Miranda desfilou em um carro alegórico da Grande Rio, enquanto Tarcísio entrou na avenida com a Vigário Geral, escola que abriu o grupo de acesso trazendo uma alegoria que satirizava o presidente Jair Bolsonaro.

Já o pré-candidato do PSL Rodrigo Amorim, que busca o apoio de Witzel, passou rapidamente pelo camarote do governo do estado e desfilou pela Unidos da Tijuca no segundo dia do Grupo Especial. Em outro camarote, Amorim dividiu espaço com nomes de diferentes partidos, desde o secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Leonardo Rodrigues, até os deputados estaduais Paulo Bagueira (Solidariedade) e Waldeck Carneiro.

Sem muitos problemas com a reunião de diferentes forças políticas no mesmo espaço, um outro camarote recebeu o vereador Ítalo Ciba (Avante) — que revelou, em entrevista ao GLOBO, visitas de Flávio Bolsonaro a ele e ao ex-policial Adriano da Nóbrega — e a veradora Luciana Novaes (PT). Novaes, que ficou tetraplégica em 2002 ao ser atingida por uma bala perdida e usa uma cadeira de rodas adaptada, disse que pretendia passar pela avenida entre os desfiles da Mocidade e da Beija-Flor nesta segunda-feira. Ela também criticou Crivella pela ausência.

— É muito ruim esta distância do prefeito. Ele passa uma mensagem de que não entende a dimensão desta festa — afirmou.

O Globo