Bolsonaro ataca TSE para distrair platéia

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Foto: EVARISTO SA / AFP

O questionamento do presidente Jair Bolsonaro à lisura do pleito que o elegeu em 2018, feito em sua viagem aos Estados Unidos, tem todas as características de tática diversionista em estado bruto. Visa confundir a atenção do que realmente interessa: o nervosismo dos agentes econômicos em relação ao impacto da crise do coronavírus na conjuntura brasileira e a cobrança de medidas, o embate com o Congresso Nacional em torno do Orçamento, a corrosão gradativa da imagem de um presidente que está permanentemente em campanha. Pautar o debate, e não ser escravo da pauta de ninguém, é um objetivo central de Bolsonaro.

Em sua essência, a frase é irrelevante, por inconsequente. No caso de Bolsonaro concorrer nas eleições presidenciais, perdê-las e procurar deslegitimar o resultado – uma das leituras possíveis da manifestação de ontem é que Bolsonaro prepara o terreno para esta hipótese -, as chances desta manobra dar certo são ínfimas. A história recente é longa de presidentes que procuraram, de uma forma ou outra, dar um drible na voz das urnas e tiveram que sair do cargo. O episódio mais recente se deu com o boliviano Evo Morales. Houve o caso de Alberto Fujimori em 2000. De Slobodan Milosevic, no mesmo ano. O sucesso de alguns ditadores africanos com esta manobra não permite estender a analogia para o Brasil.

Sustentação popular é fundamental no modelo de populismo autocrático que Bolsonaro pretende incorporar. Sem povo, nada feito. Nem com 300 militares dentro do Palácio do Planalto ele conseguiria se manter com uma derrota eleitoral. Mas a atmosfera internacional pode levar o ambiente político doméstico a subestimar a força da institucionalidade brasileira e a superestimar o poder presidencial.

O pronunciamento de ontem se liga a uma das fantasmagorias do imaginário bolsonarista, a de que o voto eletrônico foi uma conspiração para instalar no poder a esquerda, balaio em que ele coloca quase a totalidade do espectro político brasileiro. Há outras, que ele exercerá incessantemente, como um mágico que tira sempre o mesmo coelho da cartola. A democracia brasileira fica no mesmo lugar em que estava antes, mas ele tem sucesso em subir as suas hashtags, crescer em engajamentos e na navegação da política virtual. Ele fortalece sua imagem, no momento em que seu governo perde força. E assim se posiciona para avançar na corrida eleitoral de 2022, que ele próprio antecipou.

Valor Econômico