Confinamento global afeta a noção de tempo da população
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Em “Feitiço do tempo” (1993), clássico da “Sessão da Tarde”, o “homem do tempo” de um canal de TV acorda na manhã seguinte (e na outra e na outra…) com tudo acontecendo do mesmíssimo jeito. A premissa da história tem sido muito lembrada desde que importantes marcos temporais sumiram da nossa rotina com as medidas de isolamento social adotadas para evitar que a Covid-19 se espalhe ainda mais. Estima-se que mais de 1/3 da população mundial estejam de quarentena. Não há dia de escola, o trabalho (quando tem) é muitas vezes em home office, e os programas de fim de semana acabaram. Sem tudo isso, nos perdemos no calendário.
Na Itália, o psiquiatra e filósofo Mauro Maldonato conta que boa parte de seus pacientes tem essa queixa. Voluntário do Serviço de Psicopatologia de Emergência de seu país durante a pandemia, ele atende por Skype muitas pessoas que, confinadas há semanas, não sabem em que dia estão.
— Começamos a perder a noção do tempo — diz ele, que também é professor de Psicologia Clínica na Universidade de Nápoles e autor do livro “Passagem do tempo” (Sesc SP). — É como se o horizonte tivesse ficado imóvel. Tem paciente que me conta que não sabe se está na terça ou na quinta-feira, e essa deficiência temporal tem causado angústia e fadiga crônica.