Doria lembra que pior da crise não chegou

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Foto: Francisco Cepeda/Agência O Globo

Governador de São Paulo, estado que contabiliza 40 das 46 mortes por coronavírus até aqui no país, o tucano João Doria avisa que o pior da crise ainda não chegou. “Essa é a verdade que não se pode esconder. Temos que estar preparados para ela”, disse o político paulista. Ele rebateu as críticas de que demorou para adotar medidas restritivas no estado (“Vieram na hora certa”), defendeu a redução de 50% do salário do trabalhador para manter empregos e evitou o enfrentamento com Jair Bolsonaro, na véspera da reunião com o presidente, marcada para hoje. Ele estimou em pelo menos R$ 10 bilhões o prejuízo da crise à economia paulista.

A entrevista foi concedida antes do pronunciamento de Bolsonaro, ontem à noite em rede nacional, no qual criticou ações de governadores para conter a pandemia, como o fechamento de escolas e comércio e o isolamento social. Em nota, Doria afirmou que só comentará o pronunciamento após a videoconferência entre o presidente e os governadores do Sudeste.

Há um movimento de empresários bolsonaristas para minimizar os riscos do coronavírus. Isso preocupa?

A nós não, porque temos as informações corretas e elas não são obtidas em relação emocional, mas em funcional, numérica e do ponto de vista da saúde pública.

Depois dos ataques mútuos, com qual estado de espírito o senhor vai amanhã (hoje) para a reunião com Bolsonaro?

É tranquilo. Primeiro, não iniciei nenhum ataque, apenas respondi aos que recebi. Temos que defender o Brasil e para isso devemos estar unidos. O presidente Jair Bolsonaro não fala com os governadores há 15 meses. Creio que ele governará melhor e alcançará mais capilaridade se colocar os governadores a seu lado na gestão.

Qual o recado das panelas para o presidente Jair Bolsonaro?

Prefiro não comentar. Não quero criar rivalidades que não contribuirão para a resolução da crise.

A Índia determinou o isolamento social com bem menos casos que São Paulo. Até dez dias atrás aqui havia estádio lotado e manifestação na Avenida Paulista. Por que não adotou medidas mais restritivas mais cedo?

São Paulo adotou medidas na hora certa. Não foram no impulso, mas amparadas em informações de especialistas e infectologistas. Administramos pressões de todos os lados, para fazer a coisa certa. São Paulo não fechou estrada, não propôs fechamento de aeroportos, portos, nem fábricas, por entender que estão movimentando a economia.

A OMS recomenda testar agressivamente, rastrear e isolar o maior número possível de casos.

Isso é recente. Não era essa a posição da OMS há três semanas. Eles também foram evoluindo em suas orientações e houve uma mudança. A partir dela, determinamos o aumento e hoje já são dois mil testes por dia na rede pública.

Há disponibilidade de testes?

Claro. Temos equipamento, material, suprimento e equipe. Suspendemos por 60 dias as férias de profissionais da Saúde, e também licenças, exceto aquelas de ordem médica. Ao obter também a autorização do STF para suspender o pagamento da dívida do estado, vai nos garantir R$ 7,2 bilhões de recursos para o combate à pandemia.

Qual foi o dia mais difícil da crise até aqui?

O pior da crise ainda não chegou. Essa é a verdade que a gente não pode esconder. Temos que estar preparados para ela.

Como confortar a população de São Paulo para ela lidar com essa informação?

Primeiro, que cada um cumpra seu papel, fazer o resguardo. Proteger as pessoas acima de 60 anos, assim como as pessoas com comorbidades e deficiência. E muita solidariedade, é hora de testá-la no limite.

Quais os cenários de contaminação desenhados pelo comitê de contingência?

Os cenários foram projetados para ações do governo, e não divulgação pública. E eles podem mudar, são reavaliados diariamente.

O governo federal editou MP que permitia a empresas não pagar funcionários por quatro meses, depois voltou atrás. É possível deixar de pagar o trabalhador?

Do ponto de vista de seu enunciado, a medida não é incorreta. Qual era: vamos criar situações que evitem o desemprego. Mas elas precisam estar respaldadas por medidas que garantam renda mínima ao trabalhador no período em que ele não estiver trabalhando e continuar com vínculo com a empresa. Um mecanismo seria pagar 50% do salário neste período. Sei que isso é difícil, mas entre o desemprego e ter a metade do salário durante quatro meses, é melhor que seja feito este esforço. Ainda que ele receba pelos direitos, em 90 dias ele já terá consumido seu valor indenizatório. E estará diante de uma crise econômica, que vai dificultar sua recomposição empregatícia.

Pretende fazer algo mais por empresários que não demitirem trabalhadores?

Sim, liberamos R$ 500 milhões pela Desenvolve SP, e pelo Banco do Povo, para o microempresário, que é quem mais está sofrendo, além das pessoas em situação de rua, desempregadas ou com renda eventual.

Como governador do estado mais rico do país, está preocupado com a perda econômica da crise?

O Brasil todo sentirá os seus efeitos, e São Paulo, que responde por quase 40% da economia de todo país, também. Convidamos uma consultoria internacional, a Deloitte, para nos assessorar no cenário da crise (até o final de julho) e no pós-crise (a partir de agosto). Neste segundo cenário, estão previstas forte ativação da construção civil, aumento de exportações do agro e agilização do programa de desestatização.

Qual é o prejuízo previsto?

Uma perda de R$ 10 bilhões na economia do estado de São Paulo até 30 de julho, em 120 dias.

O Globo