Enquanto Bolsonaro nega apoio a atos, convoca seguidores
Foto: Reprodução
Um tuíte publicado na conta da Secretaria Especial de Comunicação (Secom) deixou ontem ainda mais explícita a participação do presidente Jair Bolsonaro na convocação das manifestações de domingo, dia 15. Segundo interlocutores, Bolsonaro redobrou a aposta nos atos para se fortalecer politicamente.
Os protestos têm como alvos principais o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), embora o tuíte da Secom repita a negativa feita pelo presidente. A publicação faz referência à recente viagem de Bolsonaro aos EUA.
“A visita do presidente Jair Bolsonaro aos EUA incluiu um encontro com a comunidade brasileira que vive na Flórida. Em seu discurso, ele destacou a legitimidade das manifestações populares previstas para o dia 15 de março em todo o Brasil”, diz o tuíte.
O texto vem acompanhado de uma imagem com uma frase de Bolsonaro: “As manifestações do dia 15 de março não são contra o Congresso nem contra o Judiciário. São a favor do Brasil”.
Ainda ontem, entretanto, Bolsonaro negou ter convocado os atos, ao ser questionado sobre se o alastramento do coronavírus no país deve afetar a convocação. “Eu não convoquei ninguém, pergunta para quem convocou. Você pergunta para quem convocou”, respondeu.
Não é possível atestar que o presidente tenha aprovado o tuíte antes de ser postado. Porém, auxiliares afirma que dificilmente uma publicação sobre tema tão sensível teria deixado de passar por ele.
Fontes avaliam que não há grandes riscos jurídicos na publicação. O tuíte, dizem, reproduz uma fala do presidente e não convoca de maneira explícita às manifestações. Apenas repete que os atos não atentam contra os demais Poderes, apesar de ser sabido até mesmo dentro do Planalto que o Congresso seja o alvo preferencial.
No governo, porém, as percepções sobre os riscos políticos estão divididas. Alguns auxiliares do presidente acreditam que a postagem pode acirrar ainda mais os ânimos entre o governo, o Judiciário e sobretudo o Congresso, com quem Bolsonaro vem mantendo relação conturbada.
Apesar de a conta “SecomVc” no Twitter ser institucional, o perfil fala principalmente com o núcleo duro do bolsonarismo. A publicação foi feita em meio à percepção de que as discussões sobre a manifestação de domingo estavam arrefecendo nas redes, onde a militância do presidente é mais atuante. A postagem foi uma das maneiras encontradas para reacender a militância.
Auxiliares percebem reações negativas nos comentários. Diversos perfis críticos ao presidente marcaram na publicação o Supremo, o Ministério Público Federal (MPF), além do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Os internautas instam os demais órgãos a tomar providências diante do que veem como o uso de uma conta oficial para fins políticos.
Por outro lado, há também a expectativa no Planalto de que os atos devem ser grandes, com base no monitoramento das mídias sociais. E que eles aumentarão a pressão sobre o Congresso.
O silêncio de Maia e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) reforça a impressão de que eles estão “sentindo o golpe” e que aguardam as manifestações acontecerem para depois decidirem como irão reagir.