Especialistas criticam medidas contra pandemia
Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
Além da demora do presidente Jair Bolsonaro em admitir a gravidade da pandemia da Covid-19, as ações desordenadas dos governos federal e estaduais têm deixado os analistas preocupados. Para eles, as medidas adotadas até agora são insuficientes para minimizar os efeitos recessivos da nova crise global e é preciso melhor coordenação.
A economista e consultora Zeina Latif sente falta de uma autoridade coordenando o combate à pandemia no governo federal, como ocorreu durante o apagão em 2001, para evitar a bateção de cabeças entre os governos federal e estaduais. “Não existe uma figura para atuar como o bombeiro do incêndio, a quem todos deveriam ouvir de forma mais ordenada”, compara, criticando a falta de uma liderança no combate ao coronavírus. “Não é hora de confundir”, afirma. Ela acredita que o governo já deveria ter iniciado os testes rápidos para evitar um contágio maior. “Foi o que a Coreia do Sul fez”, sugere.
Na avaliação do economista e consultor Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central, não será fácil para o país sair dessa crise agindo com medidas pouco eficientes. Segundo ele, até mesmo a redução de juros recente do BC não deve ter impacto direto na retomada da economia, mas poderá ajudar quando a epidemia for controlada no futuro. “Essa retomada pode demorar. Temos um choque duplo de oferta e de demanda por conta da pandemia e não sabemos o efeito. E o que o governo está fazendo até agora é muito pouco para reverter o quadro recessivo que está por vir”, avalia.
O economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, prevê queda de 1,5% no PIB deste ano se o governo conseguir controlar a pandemia rapidamente. Contudo ele admite que, em um cenário de paralisação mais aguda da atividade econômica, o tombo pode ficar entre 3% e 4% ou até mesmo mais do que isso. “Ainda não vimos uma parada coordenada de toda a economia e, portanto, não temos uma referência estatística”, detalha.
Para Padovani, o pacote de medidas que o governo vem anunciando está na direção correta, mas pode não ser suficiente para evitar perdas econômicas. Ele avalia como mais positivas as ações do Banco Central, que vem agindo corretamente, em várias frentes, como na queda dos juros de 4,25% para 3,75% ao ano e nas medidas voltadas para abrir espaço para o setor financeiro poder estimular a atividade.
Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, também vê com bons olhos as medidas adotadas pelo Banco Central para dar mais liquidez às instituições financeiras, reduzindo as margens prudenciais de depósitos na semana passada. “Isso permitiu que os grandes bancos anunciaram o adiamento para o pagamento de parcelas de empréstimos por 60 dias”, elogia. Leal prevê retração do PIB nos dois primeiros trimestres do ano, ou seja, uma recessão técnica, mas espera que o PIB fique perto de zero no acumulado do ano. “O cenário é preocupante. Nunca passamos por uma situação dessas, nem no Brasil, nem fora dele. Não dá para rodar modelos, porque não temos dados no passado para reproduzir o que está acontecendo”, reforça.