
Lacalle Pou evita comentar ideologias de Bolsonaro
Foto: Mariana Greif/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro será neste domingo um dos principais convidados internacionais na posse do novo chefe de Estado do Uruguai, o centro-direitista Luis Lacalle Pou, defensor de uma forte aliança entre os dois países mas, ao mesmo tempo, cuidadoso quando é questionado sobre o governo brasileiro. Na noite do último sábado, rodeado de gauchos e cavalos que vieram de todo o Uruguai para participar da cerimônia, Lacalle Pou disse ao GLOBO que “devemos deixar os aspectos ideológicos internos de cada país fora das relações para que a região possa avançar”.
Já durante a campanha, o novo presidente uruguaio dispensou o respaldo de Bolsonaro. Hoje, Lacalle Pou mantém uma posição cautelosa e até se incomoda quando é perguntado sobre a atual realidade brasileira:
— Não me corresponde opinar sobre temas internos do Brasil.
O que interessa ao novo governo uruguaio é a relação e a parceria comercial, ponto. Isso, para o chefe de Estado e líder de uma coalizão de cinco partidos de centro e direita está claríssimo.
— Se conseguirmos deixar a questão ideológica interna fora da discussão e ver aspectos em comum entre os países da região não tenho dúvidas de que vamos avançar — declarou Lacalle Pou, durante um evento organizado pela base rural do Partido Nacional, que conquistou, com ele, a quarta Presidência num período de 100 anos. O anterior foi seu pai, Luis Alberto Lacalle, que governou o Uruguai entre 1990 e 1995.
Mais de 1.500 cavalos participarão da posse, algo inédito na História do país e que segundo colaboradores do novo presidente busca mostrar que o campo, crítico e considerado marginalizado pelos governos da esquerdista Frente Ampla (no poder entre 2005 e 2020), será novamente relevante para a política nacional. O mundo rural uruguaio é essencialmente conservador e votou, em massa, por Lacalle Pou. Nas grandes cidades, sobretudo em Montevidéu, a Frente Ampla continua sendo dominante e provavelmente vencerá na disputa por várias prefeituras nas eleições municipais do próximo mês de maio.
Pensando justamente no campo, Lacalle Pou considera prioritário o vínculo com o Brasil, segundo sócio comercial mais importante do Uruguai.
— Vamos viver momentos cruciais, entre outros a ratificação final do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE), e acredito que existe uma possibilidade de flexibilizar o Mercosul. Torná-lo mais forte, mas também mais flexível. O presidente do Brasil já falou sobre isso — assegurou o novo presidente, enquanto um grupo de gauchos preparava um churrasco ao ar livre.
Perguntado sobre a resistência da Argentina do peronista Alberto Fernández e seus aliados kirchneristas em abrir a economia interna e, também, o Mercosul, Lacalle Pou, mais uma vez, evitou atritos com um governo vizinho:
— Não vou opinar sobre isso. Tendo a ser otimista e cada país tem seus processos internos e eles não devem ser discutidos.
Para ele, o importante, no discurso, é que Brasil e Argentina cresçam porque assim, assegurou, “nossas chances de crescer são maiores”.
— São dois países dos quais somos muito dependentes. O Brasil é nosso segundo sócio comercial, entre outras coisas, e aspiramos a que seja cada vez mais sócio — disse o novo presidente do Uruguai.
Em conversas informais, seus ministros e assessores confirmam o que sua atitude pública demonstra: interesse em acordos econômicos e não em alinhamentos políticos ou pessoais.
— Poderemos até ter uma relação ótima com Bolsonaro, mas temos de ser cuidadosos porque ganhamos por uma margem muito estreita (37 mil votos) e precisamos consolidar nosso respaldo no centro — admitiu um futuro ministro do novo governo.