Ministra da Agricultura diz que não faltará comida
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Durante a pandemia do coronavírus (Covid-19), o dia a dia da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, tem sido mais do que desafiador. Coube a ela mediar a reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e o mandatário chinês, Xi Jinping, na última segunda-feira 23, depois de o filho deputado do presidente, Eduardo Bolsonaro, inflamar as relações entre os dois países. Ela também convocou uma reunião entre os chefes da Agricultura de países do Mercosul no início da semana. A atuação sobrepõe-se à própria área da ministra. Tereza Cristina colocou à disposição do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, os laboratórios de testes da qualidade dos produtos importados e exportados pelo Brasil para a leitura dos exames que atestam a doença. Entre reuniões com o presidente Bolsonaro e representantes do agronegócio, a ministra atendeu VEJA para uma entrevista por telefone. Ela garante o abastecimento do país durante os dias de crise, explica as medidas de proteção dos funcionários do campo e crítica governadores por medidas restritivas.
Como o ministério vem atuando para mitigar os efeitos dessa crise? Desde o momento em que tomamos conhecimento do que estava acontecendo na China, montamos um grupo de acompanhamento com os secretários de abastecimento, porque prevíamos algum tipo de impacto para o setor. Fomos um dos primeiros ministérios a pedir reconhecimento pela Casa Civil como um serviço essencial, que não pode parar. Tínhamos uma preocupação grande com os insumos vindos da China, como os defensivos agrícolas e fertilizantes, que são essenciais para a nossa produção.
Devemos estar preparados para o desabastecimento de supermercados? Não vai faltar comida. Estamos trabalhando para que os produtos possam sair dos armazéns e cheguem às prateleiras, mas esse não é o único problema. Os alimentos dos animais, por exemplo, precisam chegar às fazendas, para a produção de carne, porcos, frango.
E quais têm sido os principais desafios? Uma das nossas grandes dificuldades tem sido decretos muito duros de prefeitos e governadores rebeldes. Entendemos as posições deles, mas há, por exemplo, alguns municípios que fecharam suas entradas e os trabalhadores não conseguem chegar às indústrias. Além disso, as fábricas não recebem a soja e não conseguem produzir ração. A agricultura é feita de cadeias e os impactos são muito rápidos.
A senhora convocou uma reunião entre representantes da agricultura na América do Sul. O que foi tratado? A reunião com os ministros da Agricultura do Mercosul foi excelente. Convoquei a conversa na quinta e realizamos já na segunda-feira. Decidimos harmonizar nossas políticas quanto aos corredores viários, porque os produtos precisam circular pelo continente. Elaboramos, junto ao Ministério da Infraestrutura, um documento de colaboração que será assinado em conjunto com os outros países, que prevê essas medidas, além de alinhar as políticas de segurança para os caminhoneiros.
A senhora já projeta cenários para depois deste momento duro? Desde o início dessa crise, estamos muito preocupados com o avanço do acordo comercial entre a China e os Estados Unidos. As vendas vão continuar e o dólar alto é positivo para as exportações — bom para as exportações [risos]. Temos nossa cadeia de proteína animal se expandindo e volume dentro do país. Imagino que, quando a China voltar à normalidade, vamos voltar a exportar muita carne.
Na agricultura, quais vão ser os principais afetados? Minha grande preocupação é com os pequenos produtores, cujos produtos têm valor agregado alto, porém. Pense no produtor de flores. Quem vai comprar flores agora? Mas tenho falado muito com o Ministério da Economia e o Banco Central vem adotando medidas para amenizar esses impactos, mas, obviamente, há setores que vão sofrer mais que outros.
Como manter as produções? Há medidas protetivas para os empregados? As condições de trabalho no campo são diferentes das grandes cidades. Além de os frigoríficos estarem adotando uma série de precauções com seus funcionários, com a adoção de medidas sanitárias, lá não tem aglomeração, as pessoas trabalham em espaços abertos. O ministro da Economia sabe que, quando a situação se normalizar, a agricultura vai ser o primeiro setor a voltar à carga.
Qual foi o papel da senhora na conversa entre os presidentes Jair Bolsonaro e Xi Jinping, da China, depois de Eduardo Bolsonaro inflamar a relação entre os dois países? Eu apenas acompanhei. A reunião entre o presidente Bolsonaro e o presidente chinês foi muito produtiva. Ele se solidarizou com o povo brasileiro, disse que quer colaborar na área científica para combater o coronavírus.