Ministra nega risco de desabastecimento

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Foto: Ian Cheibub/Folhapress

Em conversas com o setor produtivo, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, 65, prepara um plano para assegurar o abastecimento de alimentos, desde a fazenda ao supermercado.

Há serviços essenciais que não poderão parar durante o isolamento pelo coronavírus, e a produção e o transporte de alimentos são exemplos.

“Temos que fazer com que a colheita saia da propriedade. Porque, se não colhermos agora, só no ano que vem.”

A ministra afirma que os supermercados têm estoques de 60 dias e diz que não há perigo de desabastecimento.

O que o ministério está fazendo para o abastecimento de alimentos?
Abastecimento é uma atividade essencial, mas é um monte de etapas, desde as propriedades até a gôndola do supermercado. No momento, estamos na colheita da safra, com 60% colhidos em média nos estados. Temos safra recorde de soja, alguma coisa de milho e algodão e o dia a dia de hortifrúti granjeiros, hortaliças. Temos que fazer com que a colheita saia da propriedade, que os produtos que precisam de secagem e limpeza sejam levados para a agroindústria e depois sejam vendidos aos supermercados.

Temos que tratar disso tudo para que as pessoas tenham o risco mínimo de contaminação, mas que também o trabalho seja feito. Porque, se não colhermos agora, só no ano que vem. Precisamos manter os estoques, e por isso temos discutido com os elos dessa cadeia para ver quais são os problemas que vão acontecendo.

Tivemos que falar com muitos prefeitos que estão baixando decretos ou impedindo que pessoas cheguem ao trabalho, principalmente nos frigoríficos e abatedouros de aves e bovinos.

Na greve dos caminhoneiros, houve morte de aves por falta de escoamento. Esse é o temor?
As aves precisam de ração. A ração é serviço essencial? Claro que é. É isso que estamos mapeando e deve sair uma medida provisória para que a gente unifique essas ações, do que é serviço essencial na agricultura e na pecuária, para que as pessoas lá embaixo [nas cidades] saibam.

E com muita responsabilidade a gente possa ter as pessoas trabalhando no setor, mas sem correr risco.

Falei com os municípios onde houve confusão na chegada dos funcionários, se trabalham ou não.

Há dúvida sobre se ficam em casa ou se trabalham?
Sim. Temos esclarecido e estamos trabalhando no comitê de crise na Casa Civil para dar segurança para quem trabalha nesse setor e, ao mesmo tempo, entregar os produtos para armazenamento e abastecimento.

Pretendem definir quais os setores que não podem parar?
A iniciativa privada está preocupada. Cada empresa está adotando um protocolo de acordo com seus problemas. O setor frigorífico anunciou, por exemplo, que 3 ou 4 empresas fechariam algumas unidades, dariam férias coletivas de 20 dias. O que estamos orientando é que esses trabalhadores depois voltem e saiam outros para manter o fluxo de fornecimento.

Não adianta produzir e isso não chegar aonde precisa, na agroindústria ou no supermercado. Por enquanto estamos fazendo o serviço de bombeiro, quando há desinformação, a gente explica, diz que os protocolos serão esses, que tem que trabalhar com os riscos mínimos.

O vírus já afeta as exportações?
Com certeza deve estar [afetando]. No passado recente, tivemos problema com contêineres que foram para a China e com a demora para descarregar lá, com todo o problema que eles tiveram… eles são o nosso maior mercado.

A sra. tem informações sobre problemas para escoar a soja?
Por enquanto não, mas estou em contato com o ministro [da Infraestrutura] Tarcísio [de Freitas] porque estamos preocupados em criar corredores para, na hora em que a coisa [doença] sair dos grandes centros, ter corredores sanitários para que os motoristas de caminhão possam fazer a distribuição.

A sra. tem algum plano de emergência para garantir o abastecimento dos supermercados?
Temos conversado com a Abras [associação brasileira de supermercados], e a informação que temos é que eles têm estoques e estão formando estoques com o horizonte de 60 dias. Mas a população, neste primeiro momento, está muito assustada, principalmente nos grandes centros, e aí fazem compras além do que precisava.

O que a gente pede é que as pessoas tenham certa parcimônia para ter um consumo consciente e racional, não comprar a mais do que se compra porque você pode estar estocado, mas vai faltar para alguém. E não tem perigo de desabastecimento. É o que todos têm dito para nós. Álcool em gel, por exemplo, teremos doação de usinas do setor sucroalcooleiro.

Folha