Moro apoia coronel que elogiou motim no Ceará

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Foto: Fátima Meira/Futura Press/Folhapress

Primeiro nordestino a ocupar a direção da Força Nacional de Segurança, o coronel Aginaldo de Oliveira estava entre colegas próximos quando chamou de “gigantes” os policiais cearenses que promoveram um motim de 13 dias. Natural de Alto Santo, no interior do Estado, ele é conhecido entre os pares como “caveira”, devido a passagens por batalhões de operações especiais, inclusive pelo Bope do Rio de Janeiro, cujo símbolo é uma faca atravessando um crânio humano.

Criticada por juristas, a postura de louvação aos amotinados está sendo analisada pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, segundo informou ao Valor o secretário nacional de Segurança Pública, general Theophilo Gaspar de Oliveira. Questionado sobre eventual punição a Aginaldo, o secretário se limitou a dizer que é subordinado a Moro e que é o ministro “quem irá definir”.

Nos corredores do Ministério da Justiça, porém, não há sinais de desaprovação à manifestação do diretor da Força Nacional. A assessoria de imprensa do Ministério da Justiça informou que Oliveira está fora de Brasília e que por isso não iria se manifestar.

Integrante da Polícia Militar do Ceará há mais de 30 anos, Oliveira chegou a Brasília em janeiro do ano passado, pelas mãos do próprio general Theophilo, que é seu conterrâneo. Em 2018, o general disputou pelo PSDB o governo do Ceará e ficou em segundo lugar, com 11,3% dos votos.

Anteontem, o governador Camilo Santana (PT) pediu medidas contra a politização das polícias, por meio de uma influência crescente de parlamentares dentro das corporações. “São justas as reivindicações da tropa, mas não se justificam atitudes onde policiais encapuzados ficam amedrontando a população”, afirmou.

Diferentemente do sentimento captado em Brasília, a fala de Aginaldo foi vista com muita preocupação por Camilo Santana, mas ele preferiu não fazer críticas específicas e correr o risco de acirrar novamente os ânimos.

Apesar da proximidade com lideranças locais, o diretor da Força Nacional não é tão íntimo dos microfones. No Ceará, até pouco tempo atrás ele era mais conhecido pelo papel na coordenação de grandes eventos – como a segurança da Barra da Tijuca durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro – e por algumas operações que acabaram com bandidos mortos.

Pessoas próximas a Aginaldo destacam o perfil mais operacional do coronel e não acreditam que ele tenha maiores pretensões políticas. No mês passado, ele esteve outra vez sob os holofotes, durante o seu casamento com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que é integrante da tropa de choque do presidente Jair Bolsonaro.

Os noivos se conheceram no início do ano passado, logo após assumirem seus respectivos cargos em Brasília. A cerimônia reuniu membros do primeiro escalão do governo, além da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Padrinho do casamento, Moro assumiu o microfone à certa altura da cerimônia para homenagear os noivos. Elogiou a coragem da deputada e o seu papel em grandes manifestações rua. Disse ainda que, mesmo não sendo militar, Carla Zambelli merecia uma medalha de “caveira honorária”. Há relatos de risos.

Valor Econômico