‘O mundo inteiro está errado e só Bolsonaro está certo?’, diz Doria
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O governador paulista, João Doria (PSDB), fez um duro ataque nesta sexta-feira (27) às declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que incentivam a retomada das atividades em meio à pandemia do novo coronavírus (COVID-19). Doria disse que “a política que mata pessoas não salva a economia”, que o país precisa discutir “quem será o fiador das mortes no Brasil” e que a campanha do governo federal intitulada “O Brasil não pode parar” desinforma a população.
“Hoje, mais de 50 países estão em quarentena, lutando contra uma pandemia, a pior crise de saúde do mundo”, disse. “Quase metade da população do planeta está recolhida, em casa. O mundo inteiro está errado e o único certo é o presidente Jair Bolsonaro? Será esta a racionalidade? O mundo errado e um dirigente certo? Reflitam sobre isso.”
O governador disse que há documentos do próprio Ministério da Saúde que defendem o isolamento, e lembrou que o próprio presidente assinou um decreto de calamidade pública.
“A campanha que o governo federal está lançando hoje nas emissoras de TV e nas redes sociais prega justamente o contrário. Afinal, temos um governo federal ou dois governos? Um que acerta na sua política pública, no seu Ministério da Saúde, com seus técnicos, especialistas e cientistas, e o outro que prega exatamente o contrário? Qual dos dois governa o Brasil?”, perguntou.
Na contramão do que o governo federal tem defendido, o governador afirmou que todas as medidas de quarentena estão mantidas e valerá até o início de abril. “Estamos monitorando, tomando como base informações do centro de contingências do coronavírus. E para salvar vidas, inclusive, destes que pregam ruptura do isolamento.”
Doria relatou que tem recebido “centenas” de mensagens e dezenas de “telefonemas chulos e com xingamentos” por causa das medidas adotadas para combater a pandemia do novo coronavírus. Nesta manhã, o governador registrou ocorrência por ameaças e injúrias. Ele falou em “ações orquestradas não apenas por robôs, mas partidas, certamente, do gabinete do ódio em Brasília”.
Doria reforçou os pedidos para que a população fique em casa e citou o caso do prefeito de Milão, Giuseppe Sala, que admitiu ter errado depois de ter endossado na cidade italiana uma campanha de tom semelhante à do governo federal.
Hoje, o número de mortos pelo novo coronavírus na região do Lombardia, onde fica Milão, chegou a 5.402, noticiou a agência Reuters citando uma fonte local.
“Antes que isso aconteça, você que é cidadão, você que é brasileiro, você que ama a vida, siga as orientações dos médicos, da medicina correta, da ciência e das autoridades que não têm medo de falar a verdade. Fique em casa”, disse Doria.
Apesar da relação turbulenta com Bolsonaro, Doria disse que o governo estadual tem mantido diálogo com o Ministério da Saúde e com o ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM).
Segundo o governador, o estado vai destinar R$ 50 milhões para que a Prefeitura de São Paulo amplie as instalações de hospitais de campanha e aumente os leitos de UTI. O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), disse que o dinheiro destinado à cidade vai ser usado para a criação de mais 725 leitos de UTI na cidade.
Doria também anunciou que o infectologista Júlio Croda passará a integrar o governo de São Paulo. Ele deixou a direção de imunização e doenças transmissíveis do Ministério da Saúde.