Por que Bolsonaro não acerta
Foto: Carolina Antunes/PR
Por que Jair Bolsonaro não consegue fazer a coisa certa? Difícil responder a esta pergunta sem entender a cabeça confusa do presidente, que em pouco mais de um ano jogou por terra quase todo o seu capital político. Não se trata de compreender apenas seu comportamento na epidemia de coronavírus, embora essa seja a evidência mais clara de sua incapacidade, mas sim os sucessivos equívocos que vem cometendo desde a sua posse. A resposta mais adequada talvez se encontre avaliando a sua capacidade cognitiva usando como ponto de vista a política.
O Brasil experimentou mais de duas décadas de governos de centro-esquerda, com os oito anos de Fernando Henrique, outros oito de Lula e mais seis anos de Dilma. Desde o primeiro mandato de FH, os presidentes do Brasil foram inteligentes o suficiente para entender que, depois de empossados, o discurso de campanha deve obrigatoriamente mudar. Os três citados abriram seus leques e expandiram seus horizontes de maneira a tentar atender aos anseios e às demandas de todos os brasileiros.
FH governou sempre com maioria no Congresso e conseguiu até mesmo o apoio do PT ou de parte dele em votações importantes. Com essa maioria aprovou a emenda da reeleição e foi reeleito no primeiro turno. O ex-presidente tucano era agregador, sabia jogar com o time. Muitas vezes preferia contrariar seu próprio partido em benefício de aliados. Sabia depois compensar os companheiros que momentaneamente eram deixados de lado.
Lula também fez política de resultados. Eleito pela esquerda, governou com o centro, e em muitos casos com os métodos e as políticas do centro, e manteve-se no poder por 14 anos. Depois dos seus dois mandatos, elegeu e reelegeu Dilma. Ambos fizeram alianças que garantiram durante muito tempo a maioria legislativa. Foi quando perdeu essa maioria que Dilma caiu. Lula, que alguns anos antes se metera no escândalo do mensalão, conseguiu segurar-se no cargo em razão da sua capacidade aglutinadora.
Diante dos escândalos que explodiram nos governos petistas e na curta gestão de Michel Temer, o Brasil embarcou na onda da direita conservadora. E aí entrou Bolsonaro. Eleito nessa enorme maré de insatisfação com os políticos profissionais, o presidente tinha tudo para fazer a experiência à direita para o qual o país lhe conferira o mandato. Desde o primeiro momento, contudo, o capitão foi trabalhando contra o seu próprio governo, a começar pela reforma da Previdência, pela qual não fez qualquer esforço entregando o trabalho pela sua aprovação ao ministro da Fazenda e ao presidente da Câmara.
Não dá para listar, por serem inúmeras, as bobagens produzidas pelo presidente. Mas o certo é que a sua forma de atuar difere na essência da dos seus antecessores. Bolsonaro não é cooperativo, não é generoso e não cogita fazer concessões em nome do entendimento. É exatamente o oposto do que se espera de um governante. No caso da Covid-19, ele cometeu e segue cometendo todos os erros que estariam incluídos em qualquer lista do que não fazer em caso de epidemia. Estão enganados os que enxergam nisso um método. É burrice mesmo.
Bolsonaro parece ter sido inoculado por um cognitusvírus, o mesmo contraído por seu filho Eduardo Bananinha, que o impede de pensar com tranquilidade, analisando todas as alternativas, dando chance ao contraditório, abrindo espaço para o debate. Até mesmo o governador do Rio, Wilson Witzel, que muito recentemente não sabia o que fazer com a água contaminada da Cedae, parece um estadista diante de um abobado presidente. Witzel mostra serviço, toma medidas, assim como o ministro da Saúde, Luiz Mandetta. Enquanto isso, o presidente atabalhoado tumultua o trabalho dos outros e confunde a população.