Quase todo doente, governo governa pelo celular

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Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

O avanço da pandemia do coronavírus no país se tornou um desafio para chefes de Poderes. Isolados, eles têm atuado pelo celular. Diagnosticado com o novo coronavírus, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), montou um QG na residência oficial para garantir os trabalhos do Congresso enquanto ele estiver cumprindo o período de quarentena por conta da doença. Alcolumbre disse que o funcionamento do Parlamento será mantido “independentemente do que aconteça”.

— Sigo de casa, em isolamento total, mas confiante 100% na recuperação, acompanhando tudo pelo telefone e posso afirmar que sairemos maiores depois dessa crise — afirmou Alcolumbre, por mensagem, ao GLOBO.

Isolado em um dos quartos do imóvel no Lago Sul, em Brasília, Alcolumbre tem intercalado o dia entre repouso e atividade parlamentar. A televisão fica o tempo todo sintonizada em canais de notícias, o computador ligado e o celular sempre carregado. Segundo aliados, Alcolumbre tem mantido contato constante com senadores. O mais acionado é o senador Antônio Anastasia (PSD-MG), primeiro vice-presidente da Casa. Eles costumam se falar, pelo menos, a cada duas ou três horas.

— O momento exige esforço e solidariedade de todos nós e enfrentaremos essa crise com maturidade política — disse.

Foi à distância que Alcolumbre organizou e acompanhou a primeira sessão remota da história do Senado, que ontem aprovou o decreto que reconhece estado de calamidade pública. Na véspera da votação, acompanhou os testes do sistema e telefonou ou mandou mensagens a todos os líderes, pedindo para mobilizar os colegas para a votação.

Durante a sessão, o senador cogitou fazer uma rápida fala inicial, mas decidiu se poupar. Um dos sintomas da doença, em seu caso, tem sido a falta de voz. O presidente do Senado também tem sofrido com dores de cabeça e tosse.

Alcolumbre também criou uma espécie de centro de controle informal de exames dos colegas de Parlamento, com atenção especial a Nelsinho Trad (PSD-MS) e Prisco Bezerra (PDT-CE), diagnosticados com coronavírus. O pano de fundo é, além da preocupação com a saúde dos pares, o temor de que a doença atinja muitos parlamentares a ponto de impedir o funcionamento do Congresso.

— Apesar da epidemia, daremos um jeito para que as matérias no Congresso avancem — disse Alcolumbre, emendando: –O Congresso está de portas abertas para o diálogo constante, e tenho certeza que iremos construir, de forma harmônica, os melhores caminhos para o país.

O diagnóstico positivo de Alcolumbre para o novo coronavírus acabou impondo quarenta ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. O ministro está em isolamento desde a última quarta-feira, quando soube que o presidente do Senado testou positivo para o vírus. Na segunda-feira, ambos participaram de uma reunião para debater medidas de contenção da pandemia. No local, também estavam outros ministros do Supremo e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

— A partir do momento em que saiu resultado do presidente do Senado, nós encerramos a sessão do Supremo, e de lá eu vim pra residência e cumpri recomendações médicas de isolamento — afirmou Toffoli ontem, em entrevista à Rádio Bandeirantes.

Toffoli informou que fará o teste nos próximos dias. Ele contou que está isolado em casa, sem contato direto com a filha e a funcionária que trabalha no local.

— Estou almoçando em casa, eu mesmo lavo minha louça, limpo meu quarto, estou tomando as precauções. Optei por não fazer exame ainda, porque se tem notícia que no começo o exame dá negativo, pessoa se sente à vontade pra sair de casa — explicou.

O ministro disse que segue trabalhando:

— Hoje temos tecnologia, o Supremo é 100% informatizado, ontem despachei mais de 900 processos do computador da minha casa. Se faço exame que não seria o verdadeiro, estou queimando um kit, que está escasso. Daqui uns dias, faço o exame.

Embora os ministros do Supremo estejam todos trabalhando de casa, a assessoria de imprensa do STF informou que não há registro de outro que esteja em regime de isolamento. Os gabinetes de Ricardo Lewandowski, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso informaram que eles não tiveram contato direto com pessoas contaminadas e não apresentaram qualquer sintoma da doença.

— Não tenho nenhum sintoma e estou me sentindo muito bem. Não me isolei, apenas estou trabalhando de casa. Estou tomando as mesmas precauções que todo mundo. Normalmente, eu daria aula no Rio hoje. Não fui porque a UERJ está fechada e porque há uma recomendação das autoridades sanitárias de se evitar viagens — declarou Barroso ao GLOBO.

O Globo