Reino Unido vai pagar 80% dos salários dos empregados parados
Foto: Matt Dunham /Reuters
O Reino Unido revelou na sexta-feira (20) um pacote de medidas para impedir que o coronavírus devaste a economia britânica, incluindo um esquema radical em que o Estado pagará até 80% dos salários dos empregados.
O plano saiu quando Boris Johnson anunciou uma escalada drástica na resposta do país ao vírus, ordenando o fechamento imediato de todos os bares, cafés, restaurantes, teatros, cinemas, clubes noturnos, academias de ginástica e centros de lazer.
O primeiro-ministro confirmou que a vida social no Reino Unido estava prestes a mudar drasticamente: ele disse que os fechamentos maciços começariam na noite de sexta e serão revistos “mensalmente”. Ele pediu que as pessoas não corram ao bar para um último copo antes que o fechamento entre em vigor.
Os fatos extraordinários vieram depois que um grande hospital de Londres, o Northwick Park, em Harrow, declarou um “incidente crítico” devido ao aumento de pacientes com coronavírus, dizendo aos funcionários que “não tinha espaço suficiente para pacientes que exigem cuidados críticos”.
O incidente —que começou na tarde de quinta-feira e terminou no fim da tarde de sexta— ocorreu em meio a preocupações de que o Sistema Nacional de Saúde (NHS na sigla em inglês) tem escassez de leitos de cuidados críticos para enfrentar potencialmente dezenas de milhares de pacientes necessitados de internamento depois de contrair o coronavírus.
Rishi Sunak, o chanceler do Tesouro, disse que suas medidas —incluindo o adiamento de pagamentos de imposto de valor agregado de 30 bilhões de libras (R$ 174 bilhões) pelas empresas até o final de junho, subsídios em dinheiro para pequenas empresas e ajuda para trabalhadores autônomos, inquilinos e desempregados —foi “um dos mais abrangentes do mundo”.
Sunak disse que o governo entraria em ação e cobriria o custo de 80% dos salários dos trabalhadores, ou até 2.500 de libras (R$ 14.500) por mês, para qualquer empregado que fosse licenciado e não demitido.
No Brasil, o governo anunciou que vai complementar o salário de parte dos trabalhadores que tiverem salários cortados durante o período de crise. A regra da complementação de salário valerá somente para pessoas que recebem até dois salários mínimos e tiverem jornada e remuneração reduzidas, conforme autorização do governo.
Essas pessoas receberão uma antecipação de 25% do que teriam direito mensalmente se perdessem o emprego e solicitassem o seguro-desemprego. De acordo com o informado pelo Ministério da Economia, o valor ficará entre R$ 261,25 e R$ 381,22, dependendo do salário do trabalhador.
Rishi Sunak disse que as medidas eram “inéditas na história do Estado britânico” e que o governo apoiará “tantos empregos quantos forem necessários”. Ele acrescentou: “Nós dissemos que ficaremos ao lado do povo britânico, e falamos sério”.
Frances O’Grady, secretária-geral do Congresso de Sindicatos Profissionais, disse: “Isto é um avanço. O chanceler demonstrou verdadeira liderança. Os subsídios salariais em grande escala são a melhor maneira de reforçar as finanças das famílias e manter as empresas funcionando”.
Carolyn Fairbairn, diretora-geral da Confederação da Indústria Britânica, descreveu as medidas do governo como um “pacote notável”.
“A oferta do chanceler de apoio substancial à folha de pagamentos, acesso rápido a dinheiro e adiamento de impostos ajudará a sobrevivência de milhões de pessoas”, disse ela. “Firmas em empregados responderão com alívio e determinação.”
Na terça-feira (17), Sunak anunciou 20 bilhões de libras (R$ 116 bilhões) em apoio direto a empresas e 330 bilhões de libras (R$ 1,9 trilhão) em empréstimos com apoio do governo a empresas, mas o pacote foi criticado por deputados conservadores como limitado demais para conter uma catástrofe econômica.
Sunak concordou que era preciso fazer mais e “urgentemente” para apoiar milhões de trabalhadores que enfrentavam a demissão, mas foi só na sexta que ele conseguiu anunciar a segunda rodada de apoio.
“Foi extremamente complicado”, admitiu um membro do governo, que disse que o Tesouro e outras autoridades de Whitehall trabalharam sem descanso para elaborar sistemas para entregar o pacote de ajuda a empresas e trabalhadores.
Os assessores científicos do governo disseram que as medidas de distanciamento social poderão vigorar durante um ano para manter o coronavírus sob controle, embora haja a possibilidade de variar sua rigidez com o tempo.