Bolsonaro demite presidente do CNPQ
Foto: M. Camargo/Agência Brasil
O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), João Luiz Filgueiras de Azevedo, foi exonerado do cargo pelo governo, conforme publicado nesta sexta-feira (17/04) no Diário Oficial da União.
Em seu lugar, foi nomeado o atual presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Evaldo Vilela. O despacho, do dia 16 de abril, é assinado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto.
Graduado em Engenharia Aeronáutica, Azevedo estava à frente do CNPq desde fevereiro de 2019. Segundo a Folha de S.Paulo e o portal G1, ele ficou sabendo da exoneração pelo Diário Oficial.
Ao G1, Azevedo disse que sabia que a demissão iria acontecer, mas não sabia quando. “Não foi surpresa”, afirmou.
Azevedo vinha combatendo o esvaziamento do CNPq promovido pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. Segundo a Associação de Servidores do CNPq, citada pelo G1, a exoneração está ligada ao fato de ele pleitear mais verbas e autonomia para a entidade.
Durante sua gestão, ele se posicionou contra a fusão entre o CNPq e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), defendida pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, segundo informações do jornal O Globo.
Vilela, por sua vez, ocupava tanto o comando da Fapemig quanto a presidência do Conselho Nacional de Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap) desde o ano passado. Graduado em Agronomia, com mestrado em Entomologia e doutorado em Ecologia Química, Vilela foi reitor da Universidade Federal de Viçosa.
Conforme o Globo, em março de 2019, quando o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), ao qual o CNPq é ligado, sofreu um contingenciamento de 42,2% de suas verbas, Vilela alertou para as consequências disso.
“Não estou vendo disposição da área econômica do governo para resolver esta conta. Os bolsistas de mestrado ganham 1.500 reais mensais. Os alunos de doutorado, 2.200 reais. No ano passado, em Minas Gerais, vi estudantes recebendo o auxílio com 15 dias de atraso e que tiveram dificuldade para pagar ônibus e comprar comida”, disse ao jornal na ocasião.
O novo presidente do CNPq também foi um dos signatários de uma carta endereçada a Bolsonaro em julho de 2019, no auge da crise da Amazônia, em defesa dos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), questionados pelo governo.
Em agosto de 2019, o CNPq anunciou a suspensão da concessão de novas bolsas por falta de verbas. Até o ano passado, órgão financiava mais de 80 mil bolsistas em cursos de graduação e pós-graduação. No início de setembro, o MCTIC conseguiu autorização do Ministério da Economia para remanejar uma parte dos recursos do próprio CNPq, 82 milhões de reais, e pagar as bolsas do mês. O dinheiro deveria ser usado para fomento à pesquisa.
Segundo levantamento da Folha de S.Paulo, mais de 21 mil estudos foram publicados em 2017 com apoio do CNPq, o que representa quase 65% dos novos estudos do Brasil naquele que receberam alguma forma de fomento e 33,5% dos de cientistas do Brasil.