Collor diz que vê impeachment inevitável
Foto: Sérgio Lima/ Poder360
O senador Fernando Collor de Mello (PROS-AL) disse hoje, em entrevista ao UOL, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) caminha para sofrer um processo de impeachment. A conversa foi conduzida pelo colunista Josias de Souza.
De acordo com o ex-presidente, que foi alvo de uma ação semelhante em 1992 e renunciou ao cargo antes da conclusão, a abertura do inquérito contra Bolsonaro é o primeiro passo para o processo. Ontem, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de investigação para apurar as denúncias feitas por Sergio Moro, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública.
Pelo que já vivi, isso são favas contadas. Se houver manifestação do Supremo [Tribunal Federal] indo para o Congresso, será autorizado esse processo imediatamente.
De acordo com o senador, ainda há dependência do oferecimento de denúncia —mas, se isso ocorrer, o quadro político deve encaminhar a ação para o impeachment. “É imprevisível se vai ser de um lado ou do outro; mas que é um desenlace anunciado, é”, disse.
Na avaliação do ex-presidente, a aproximação de Bolsonaro com o chamado centrão, grupo que reúne parlamentares de partidos como o PP, PL, Solidariedade e Republicanos, é tardia.
Para ele, Bolsonaro retoma a prática do “toma lá, dá cá” ao se aproximar dos partidos de centro com ofertas de cargos na tentativa de criar base de apoio no Congresso.
Demorou demais, e agora de afogadilho [isto é, de forma apressada] iniciar esse tipo de contato… Não é tão agradável essas investidas que o presidente está fazendo. Está fazendo de um modo equivocada, o presidente da Câmara não está participando.
Collor ainda classificou a prática como “deletéria” (isto é, que tem efeito danoso ou nocivo) e afirmou que entendimentos como esses “devem ser feitos à luz do dia”.
“Ninguém é a favor do toma lá da cá, mas todos nós democratas temos que ser a favor de um entendimento entre os poderes. No caso do Legislativo e Executivo, com maior razão ainda”, declarou.
O senador afirmou ainda que aprendeu uma “lição” ao passar pelo processo de impeachment em 1992. “Governo que não tem maioria no Congresso Nacional, no sistema presidencialista, não consegue terminar o seu mandato”, disse.
Para ele, “presidente não tem como se sustentar sem apoio parlamentar majoritário”.
Collor ainda disse ver semelhanças entre a situação em que Bolsonaro se encontra e o processo pelo que ele passou em 1992.
Essa falta de entendimento com o Congresso, eu já vi. E não gostei do que vi. Não tenho nenhum gosto que aconteça novamente.