Devastação da Amazônia explode na pandemia
Nem a pandemia é capaz de frear a destruição da Amazônia. Em março, a devastação da floresta aumentou mais 30% em relação ao mesmo mês de 2019. Enquanto a economia formal agoniza, a indústria da motosserra aproveita a cumplicidade do governo para faturar.
Ontem os desmatadores receberam mais um incentivo de Brasília. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, demitiu o chefe da fiscalização do Ibama. Olivaldi Azevedo foi exonerado depois de uma megaoperação que flagrou garimpeiros e madeireiros em terras indígenas no sul do Pará.
Os fiscais fizeram o que manda a lei. Reprimiram os invasores, apreenderam armas e destruíram tratores e retroescavadeiras. A ação irritou o Planalto. Nos últimos meses, o presidente Jair Bolsonaro criticou a inutilização de máquinas e festejou a queda nas multas por desmatamento.
Azevedo estava longe de ser um ambientalista. Major da PM de São Paulo, era visto como um cão de guarda de Salles. Mesmo assim, não conseguiu inviabilizar o trabalho dos servidores do Ibama. Agora os fiscais temem que ele seja substituído por alguém ainda menos comprometido com a missão do órgão.
“Bolsonaro desistiu de acabar com o ministério, mas nomeou um antiministro do Meio Ambiente. A tarefa de Salles é desmontar a área ambiental do governo”, resume Elizabeth Uema, dirigente da associação que representa os servidores da área.
A operação da semana passada contrariou outra obsessão de Bolsonaro: a liberação do garimpo em terras indígenas. Neste momento, a atividade traz um risco adicional. Os mineradores podem contaminar os povos tradicionais com o coronavírus.
“O recado do governo é claro: quem combate o crime ambiental está sujeito à demissão sumária”, diz o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini. O ambientalista chama a atenção para outra ameaça iminente. O Congresso está prestes a votar a chamada MP da Grilagem, que facilita a invasão de terras públicas na Amazônia.