Falta de testes deixa Brasil no escuro sobre pandemia

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Especialistas em saúde e autoridades sanitárias discutem, em todo todo mundo, medidas para conter o avanço do novo coronavírus e as mortes causadas pela Covid-19. O método de “contact tracing”, baseado na testagem em massa e isolamento de regiões do país em que portadores do vírus são identificados, foi implementado na Coreia do Sul – um dos primeiros países a controlar o surto da pandemia – e se tonou um dos focos de estudo.

A medida, no entanto, não é tão simples de ser replicada em outras nações, como o Brasil. Sem previsão testes em massa, estrutura ou recursos, especialistas afirmam que, dificilmente, a medida seria implementada no país.

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Na Coreia do Sul, as autoridades públicas agiram rápido para conter o surto. Em duas semanas após a primeira confirmação, o país criou uma estrutura de guerra para aumentar a testagem dos sul-coreanos. O país, que tem cerca de 50 milhões de habitantes, passou a produzir 100 mil kits por dia e a controlar cada passo de pacientes com caso positivo.

O país do sudeste asiático ainda usa informações de empresas de telefonia para rastrear por onde cada paciente com caso confirmado para Covid-19 passou e com quem teve contato, como explica o infectologista do Hospital das Clínicas Max Igor Lopes. Segundo ele, a estratégia não poderia ser aplicada no Brasil pela falta de testes e pela demora das autoridades em tomar medidas de contenção dos doentes assintomáticos.

– Não temos testes suficientes por ora. O ministério pretende aumentar, mas ainda não demonstraram como farão isso. Em nenhum momento priorizamos trabalhar o paciente infectado e seus contactantes.

Na Coreia e em Singapura, eles usaram dados de empresas de celulares para saber onde os contaminados passaram e com quem tiveram contato. A partir daí, isolaram essas pessoas. Atualmente, testamos, na maior parte, os pacientes que já estão sendo internados.

Pelas próprias características da doença, temos muitos assintomáticos, que transmitem para até seis pessoas – afirma o Lopes, que diz ainda que “sem atenção a esses casos, será difícil conter o avanço da pandemia”.

A infectologista Cristiana Meirelles cita ainda a extensão continental do Brasil como empecilho para o país aplique a estratégia sul-coreana.

– O Brasil, além de ter uma dimensão continental, não dispõe de uma quantidade suficiente de testes diagnósticos. Não há como, neste momento, seguir o exemplo da Coreia do Sul, e precisamos muito ainda do isolamento social.

Para os especialistas, o Brasil deve, além de aumentar a testagem na população, insistir nas medidas de restrição para a circulação de pessoas e o acompanhar de perto os pacientes e seus contatos.

O Ministério da Saúde não sabe ao certo quantos testes já foram feitos no país. Um boletim da pasta diz que, dos 22,9 milhões de testes anunciados em meio à pandemia, só foram entregues até quarta-feira 904.872 – ou 4% do total. A previsão é que em julho esse volume acumulado recebido chegue a 9,1 milhões, ou cerca de 40% do montante previsto.

Nesta semana, o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Wanderson de Oliveira, disse em entrevista coletiva no Palácio do Planalto que o país não temequipamentos e testes suficientes para toda a população.

— Fazer uma transição direta, sem termos os condicionantes de saúde, quais são: equipamentos de proteção individual, termos respiradores mecânicos, e termos teste laboratoriais e leitos em quantitativo suficiente, é temerário. Tenho convicção de que estados e municípios estão fazendo todo o esforço possível para ter esse quantitativo.

Agora, lembro que a epidemia não é igual em todos os estados. Temos localidades que não teriam, neste momento, nenhuma indicação, sem caso, de estar fazendo medida de distanciamento social. Essa que é a questão — explicou.