França pode nacionalizar empresas contra pandemia
Foto: Charles Platiau / Reuters
O ministro da Economia da França, Bruno Le Maire, foi entrevistado ao vivo nesta sexta-feira (3) pela RFI e pela TV France 24. Aos jornalistas Christophe Boisbouvier e Roselyne Febvre, ele declarou que desde o primeiro dia teve consciência da gravidade dessa crise e antecipou que a retomada econômica será “longa, difícil e cara”.
Assim que o confinamento entrou em vigor, o Executivo francês anunciou várias medidas para ajudar as empresas do país a superar o choque criado pela redução drástica das atividades. A decisão de avalizar em até € 300 bilhões (mais de R$ 1,7 trilhão) de empréstimos das firmas junto aos bancos é uma das mais expressivas. O volume equivale a 15% do PIB francês, e é «apenas uma primeira etapa», disse à RFI Bruno Le Maire. “Decidimos fazer tudo para salvar nossa economia, evitar falências em série e milhões de desempregados. Disponibilizamos muito dinheiro público, € 45 bilhões, para evitar a bancarrota econômica e social.”
Em relação à polêmica falta de equipamentos médicos, a começar pelas máscaras e pelos testes de diagnóstico do novo coronavírus, Bruno Le Marie lembrou que o objetivo é oferecer ao maior número de pessoas, mas a “prioridade absoluta é proteger as equipes de saúde”. As máscaras estão sendo compradas da China, mas o ministro fez questão de elogiar o esforço de fábricas francesas que reorientaram suas atividades e multiplicaram a produção nacional do produto. “Uma atitude patriota”, afirmou.
Le Maire insistiu sobre a necessidade de se obter uma soberania econômica nacional e europeia: “Existe uma necessidade absoluta de reconstruir alguns valores na França. Temos que reforçar nossa independência econômica”.
“Se a Europa não for fiel a suas raízes históricas, se ela não der provas de solidariedade humana, uma atitude que deve ser prioritária diante de considerações econômicas ou financeiras, ela não vai conseguir se reerguer”, martelou. Segundo ele, o bloco está numa encruzilhada. “Ou continuamos a ser solidários aos países mais atingidos pelo coronavírus, de maneira concreta, ou voltaremos aos egoísmos nacionais e a Europa desaparecerá”, prevê Le Maire.
Nesse sentido, o ministro da Economia propõe várias pistas. Ele pede a utilização do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MES), criado após a crise financeira de 2008 e dotado atualmente de cerca de € 410 bilhões, o desbloqueio de recursos do Banco Europeu de Investimentos (BEI) e do Fundo Europeu de Desemprego Temporário. Le Maire é favorável à criação de um novo fundo para enfrentar as consequências dessa crise econômica no bloco, que seria financiado por dotações dos países integrantes da União Europeia ou por uma taxa de solidariedade específica.
“Poderíamos mobilizar € 240 bilhões do Mecanismo Europeu de Estabilidade, que já é uma soma considerável. Além disso, cada país definirá suas necessidades”, detalhou. Le Maire defendeu a possibilidade dos Estados se endividarem. “É melhor se endividar hoje e ter meios financeiros à disposição do que deixar nossa economia afundar. A retomada econômica na França e na Europa custará caro”, reiterou.
O pagamento das taxas fiscais e sociais das empresas será suspenso enquanto durar a crise sanitária. “Seremos coerentes. Não vamos suspender o dispositivo de ajuda antes da economia ser relançada”, assegurou.
Sobre a ideia de nacionalização de empresas francesas, ele informou que uma lista dos grupos fragilizados por esta crise foi feita e entregue ao presidente Emmanuel Macron, mas garantiu que a medida seria provisória. “A ideia é o Estado proteger, mas por um período limitado. As empresas seriam nacionalizadas temporariamente, pois o Estado não tem vocação a dirigir firmas do setor comercial no lugar dos empresários”, explicou.
Ao alertar mais uma vez que a crise será “longa e durável”, o ministro prometeu que o governo francês fará tudo o que estiver ao seu alcance “para proteger o emprego dos trabalhadores”.
Moratória da dívida de países africanos?
Na quinta-feita (2), Bruno Le Marie pediu para se evitar um “drama” nos países em desenvolvimento, particularmente na África. Ele propôs como medidas de apoio uma moratória da dívida dessas nações. Na entrevista à RFI, o ministro francês ressaltou que está “preocupado com o impacto violento que esta crise pode ter nos países africanos” e reafirmou que pediu no “G20 uma solidariedade total” ao continente.