Governador critica Bolsonaro por estimular contágio

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Foto: Marcelo Camargo / ABr

No dia em que o Pará confirmou seu primeiro óbito pelo novo coronavírus, o governador Helder Barbalho (MDB) afirmou nesta quarta, 1º, que manterá a recomendação de isolamento social para a contenção da pandemia de covid-19. Disse, porém, ter observado uma mudança de comportamento da população de 8,6 milhões de habitantes do Estado. Segundo ele, influenciados pela pressão econômica e pelo que chamou de “mensagem dúbia de alguns setores”, alguns paraenses querem voltar a circular, o que é arriscado por possivelmente espalhar a infecção, segundo cientistas e médicos.

“Estimular as pessoas a sair às ruas não colabora”, declarou, condenando a pregação de setores políticos e empresariais favoráveis ao afrouxamento das regras.

Helder disse que, no Estado que governa, continuam valendo as medidas restritivas defendidas pelas autoridades sanitárias como a maneira mais eficaz de controlar a disseminação da pandemia. O governador estimou, porém, uma perda de arrecadação de até R$ 2,5 bilhões para o Pará em 2020, em razão do arrefecimento da atividade econômica causada pela pandemia. Ele elogiou o último pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro em cadeia de Tv e rádio. Nele, o mandatário assumiu tom mais conciliador e não atacou o isolamento.

Em tom de ironia, Helder chamou de “homenagem ao 1.º de abril” o vídeo divulgado – e depois apagado – pelo presidente nesta quarta, 1, em redes sociais. A peça falava em desabastecimento na Ceasa de Belo Horizonte, o que foi desmentido.

Qual o balanço de casos de coronavírus no Pará?
Nós temos 40 casos confirmados de covid-19 e acabamos de anunciar o primeiro óbito hoje (quarta, 1º), lamentavelmente. Uma senhora de 87 anos, em Santarém. Há um possível segundo óbito (pelo vírus) sendo investigado em Juruti, que pode ainda ser confirmado.

O senhor continua defendendo medidas de isolamento social?
Sim. Aqui não muda nada. O que muda é o comportamento das pessoas. Aqui e acolá a gente percebe uma intenção de afrouxar. A luta é de todos os dias mostrar para as pessoas que isso é muito grave, e é necessário que todos possam fazer a sua parte.

O que o senhor acredita que pode ter motivado essa intenção de afrouxar o isolamento?
As pessoas estão vivendo o dilema de cumprir sua obrigação e ter a consciência da condição do isolamento, ao mesmo tempo em que muitos têm dificuldades financeiras e precisam buscar sua sobrevivência. E claro que essa mensagem dúbia de alguns setores de estimular as pessoas a sair às ruas não colabora.

Qual a sua avaliação sobre o último pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro?
Acho que foi um pronunciamento que sinaliza no caminho que temos defendido, de termos responsabilidade de exercer a liderança no sentido de proteger a vida das pessoas e entender que o coronavírus é o nosso grande adversário. Tenho dificuldade de analisar terceiros. É um momento de valorizar que ele possa seguir nessa linha.

E o vídeo publicado em redes sociais pelo presidente mostrando desabastecimento na Ceasa e depois desmentido?
Homenagem ao 1.º de abril.

Quais novas medidas o Pará está tomando para combater a pandemia?
Temos quatro hospitais de campanha e 720 leitos sendo levantados simultaneamente. A expectativa é que a partir de segunda-feira comecem a ser entregues. Primeiro em Belém, para atender a Região Metropolitana e Nordeste, depois Marabá (Sul e Sudeste), Santarém (Oeste) e Breves (Ilha de Marajó).

E como está o pedido de equipamentos feito pelo senhor à China?
Ainda não tivemos retorno. fizemos compras que estamos com expectativa que até o fim de semana próximo possam chegar. Pedimos um conjunto de equipamentos de UTI, 400 respiradores, equipamentos de infusão e painel de controle. Todos os componentes para que possamos ter leitos de UTI adicionais no Estado.

Já é possível calcular as perdas econômicas para o Pará?
Nós estimamos que teremos uma perda de arrecadação de até R$ 2, 5 bilhões (em 2020). Será fundamentalmente queda de arrecadação de ICMS e do Fundo de Participação dos Estados (FPE).

O Estado do Pará tem na mineração uma de suas principais fontes de recursos. Como está a situação do setor?
A Vale (que opera no Pará seus maiores projetos, S11D e Carajás) me comunicou que vai preservar a operação e, por enquanto, que não haverá nenhuma paralisação. Em março a exportação no Estado (em relação a março de 2019), que é fundamentalmente minério de ferro, cresceu 60%. Alcoa, Vale, Hydro (alumínio), Mineração Rio do Norte, Votorantim e Buritirama são as (mineradoras) mais importantes (no Pará). Os números mostram um crescimento significativo da atividade, que continua a todo o vapor.

Qual a participação da mineração no PIB do Pará?
A mineração responde por 30% do PIB do Pará. É uma atividade importantíssima no âmbito econômico do Estado e temos cobrado de todas as empresas, que são de grande estatura econômica e possuem um nível de responsabilidade que nos deixa num patamar de cobrar, monitorar e fiscalizar sempre, e esperar que todas tenham o bom senso de preservar os seus colaboradores.

No domingo uma portaria declarou a mineração atividade como essencial. Há preocupação com os trabalhadores e aglomerações nas minas?
A preocupação nessas cidades mineradoras é a circulação de pessoas oriundas de outros estados. Além do decreto estadual que proíbe aglomerações, os municípios providenciaram barreiras sanitárias. O que restringimos foi o transporte de passageiros pela ferrovia da Vale, que está suspenso há mais de dez dias. Há 48 horas se identificou que estamos com transmissão comunitária (de coronavírus) no Estado. Entendemos que as empresas com seus protocolos podem compatibilizar a atividade da indústria com a responsabilidade da preservação à vida.

Estadão