Incêndios disparam e bombeiros pedem cuidado com álcool gel
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Com mais pessoas em casa por conta da quarentena decretada pelo governo paulista, o número de acidentes diminuiu, mas os casos de incêndios subiram 60% no Estado de São Paulo.
Em março de 2019, foram registradas 2.560 ocorrências de incêndio em todo o Estado de São Paulo. No mesmo período deste ano foram 4.089. Nos primeiros 20 dias de abril, foram registradas 2.589 ocorrências do tipo no Estado contra 2.198 no mesmo período do ano passado — um acréscimo de 18%.
Com base nas ocorrências atendidas nos últimos meses, o tenente Marcos Palumbo, porta-voz do Corpo de Bombeiros, afirmou à BBC News Brasil que o aumento incêndios ocorreu principalmente por causa de acidentes domésticos relacionados ao uso do fogão, álcool em gel e sobrecarga em tomadas.
“O álcool 70% foi retirado das prateleiras no início dos anos 2000 por causa do grande número de incêndios e acidentes. Hoje, voltou porque é necessário para assepsia contra o coronavírus. Mas é necessário esperar que ele evapore completamente antes de fazer contato com fogo. Algumas pessoas fazem assepsia com esse álcool e acendem um cigarro na sequência. Pega fogo mesmo”, afirmou o bombeiro.
Ele disse que o álcool gel se torna ainda mais perigoso por ter uma combustão quase completa e sua chama ser praticamente invisível. Isso dificulta que as pessoas saibam quando ele está em combustão e coloquem outros objetos inflamáveis perto, como um pano de prato ou um pedaço de madeira.
“Precisamos alertar também para ninguém tentar manipular álcool em casa. Há vídeos ensinando fabricar álcool gel, mas a pessoa não pode se aventurar a fazer esse tipo de manobra. Isso extremamente perigoso e só deve ser feito por um químico. Não vale a pena improvisar”, disse Marcos Palumbo.
O benjamim ou “T”, como também é conhecido o adaptador capaz de agrupar mais de um equipamento na mesma tomada, é apontado pelos bombeiros como outro grande vilão dos incêndios domésticos.
“O benjamim é um inferno nas casas. A pessoa compra uma cafeteira de 20 amperes, mas tem uma tomada de 10. Ela adapta num benjamim e coloca para funcionar, mas a tomada não vai suportar porque não foi projetada para aquilo. O correto é trocar a tomada por uma de 20 amperes”, afirmou.
Ele disse que um dos sinais mais comuns de que algo está errado nas instalações elétricas de uma casa é quando o funcionamento de algum aparelho causa uma queda de energia na casa inteira.
“Sabe quando alguém liga o liquidificador, o chuveiro ou algo que puxa muita energia e dá uma queda na energia? A lâmpada algumas vezes até fica mais fraca. Isso é um sinal de que é necessário chamar um eletricista para que ele avalie a situação elétrica do imóvel imediatamente”, afirmou o capitão do Corpo de Bombeiros.
O porta-voz dos bombeiros alerta ainda para o uso de equipamentos com grande potência para aquecimento imediato, como cafeteira elétrica, ferro de passar, micro-ondas e sanduicheiras.
Ele conta que esses eletrodomésticos recebem uma alta carga de energia, que esquentam o fio. Se as instalações elétricas forem antigas, há uma grande chance de pegar fogo, principalmente se um pano, madeira ou papel tiver próximos da tomada ou da fiação.
O bombeiro diz ainda que boa parte das ocorrências em incêndios domésticos também envolvem panelas com óleo quente. Ele conta que muitas pessoas se distraem e deixam o óleo esquentar demais. Em seguida, jogam algum produto com água, como batatas, peixe, cebola, e causa incêndios.
“O óleo e a água não se misturam. Quando você joga água dentro do óleo, ela afunda, mas está tão quente que ela evapora imediatamente e sobe de novo jogando para cima partículas de óleo. Isso pode causar chamas de até dois metros de altura em cima do fogão”.
Ele diz ainda também são comuns acidentes domésticos de pessoas que sobem no vaso sanitário para consertar o chuveiro, pegar coisa no armário ou trocar uma lâmpada.
“A pessoa cai, quebra o vaso e algumas vezes sofre cortes profundos com hemorragia. É melhor buscar uma escada e fazer da maneira mais segura para não improvisar em casa. Tudo o que a gente não quer é mais gente no hospital”, afirmou.
O Corpo de Bombeiros afirmou que essa época do ano em que as chuvas diminuem também é comum ocorrer um aumento dos incêndios em terrenos baldios, principalmente em favelas. Isso ocorre, como explica o capitão Marcos Palumbo, porque muitas pessoas queimam lixo nesses terrenos.
Ele citou como exemplo um incêndio que ocorreu em um ferro-velho na manhã desta segunda-feira na Brasilândia, na zona norte de São Paulo. As chamas se alastraram, se propagaram no mato seco e atingiram casas de uma favela da região.
Por outro lado, as ocorrências de resgate e salvamento diminuíram em cerca de 30% por conta da redução da circulação de pessoas.
“Estamos no início da operação de estiagem. O mato está alto em boa parte da cidade. A chuva fez ele crescer bastante e agora ele vai ressecar e corre um grande risco de causar incêndios”, afirmou Palumbo.