Nova Iorque imprime EPI’s em 3D
Foto: Madiha Choksi/ Reprodução
Um médico em Nova York pediu ajuda para tentar aliviar a escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs) para funcionários da área da saúde que estão na linha de frente no combate ao novo coronavírus. Uma bibliotecária parou para ajudar. Agora, Madiha Choksi, uma tecnóloga da Biblioteca da Universidade de Columbia, lidera um grupo de voluntários que já fabricaram mais de 7,5 mil protetores faciais para distribuir aos hospitais da cidade.
Ela recebeu um e-mail de Pierre Elias, colega em Columbia, que contou sobre a falta de EPIs para os funcionários da saúde no Hospital Presbiteriano de Nova York. Elias compartilhou alguns sites com arquivos de código aberto para impressão 3D de protetores faciais.
“Acho que, no início desta crise, queríamos estar preparados”, afirmou ele à CNN. “E o que estamos percebendo é que, com a quantidade de pacientes que chegam aos hospitais e de suprimentos que temos, estávamos muito preocupados se a oferta atenderia à demanda.”
Ele disse que a impressão 3D é útil porque “permite prototipagem rápida, e você não fica dependente da cadeia de fornecimento”.
A bibliotecária começou a trabalhar há pouco tempo. Ela passa todas as noites pesquisando diversos modelos e conseguiu permissão dos chefes dela para levar duas impressoras 3D da biblioteca da faculdade para o seu apartamento, já que a universidade está fechada e ela está trabalhando remotamente.
Choksi fez algumas mudanças em um modelo de escudo facial de código aberto de impressão 3D da empresa Budmen Industries, incluindo diminuir em 8% o tamanho para reduzir o tempo de impressão do visor, único componente impresso 3D do produto, para cerca de uma hora. Uma faixa elástica, uma faixa de espuma e um pedaço de plástico transparente completam o protetor facial.
Dois dias depois do primeiro pedido de ajuda, Choksi apresentou a Elias cinco escudos faciais reutilizáveis. Ele disse que ela “realmente atendeu” ao pedido de ajuda. “O carinho que ela tem pelos profissionais de saúde de Nova York é imenso. Ela tem uma grande paixão em tentar ajudar”, afirmou o médico.
Choksi disse que usou as redes sociais para falar sobre seus esforços e, pouco depois, ela conseguiu a ajuda de duas empresas de impressão 3D, MakerBot e Tangible Creatives, para imprimir os protetores. A Universidade de Columbia ajudou com o restante dos materiais e os colegas da biblioteca começaram a se voluntariar para montar as peças.
“Até quarta-feira, estávamos no meu apartamento”, afirmou Choksi. “Eu recebia cerca de 150 a 200 [protetores] por dia e tentava montá-los em casa. Percebi que era insustentável”, contou.
Através de um amigo, Choksi encontrou um local em Manhattan e muito rapidamente diversos voluntários formaram uma linha de produção – leva apenas alguns minutos para montar – que já ajudou a fabricar 7,5 mil protetores faciais, desde que os trabalhos começaram no apartamento da bibliotecária. Todos os itens foram doados a hospitais.
“Sinto responsabilidade de fazer tudo o que eu posso como uma pessoa que é tecnóloga”, disse Choksi. “Temos que fazer tudo que podemos pelos verdadeiros heróis nas linhas de frente, nossos médicos profissionais.”
Os voluntários criaram um site, Covid Maker Response, a partir do qual os hospitais solicitam os protetores.
Os protetores faciais reutilizáveis foram feitos para funcionários da área da saúde utilizarem como uma camada extra de proteção, além das tradicionais máscaras N95. A peça cobre toda a testa e olhos, indo de uma orelha a outra e até o pescoço.
Elias disse que esses produtos são especialmente úteis quando o paciente está produzindo partículas no ambiente. “Se você entuba um paciente, se faz compressões no peito ou se ele está respirando muito forte ou com dificuldade, tudo isso produz partículas no ar e é muito, muito arriscado”, explicou.
O médico informou que distribuiu cerca de 1,4 mil protetores faciais para os colegas e ressaltou que a melhor parte deste esforço todo “é ver o rosto das pessoas se iluminar”. “Cheguei com uma caixa cheia deles”, lembrou Elias em uma das vezes em que distribuiu as peças. “Estava conversando com uma enfermeira que conheço há anos e perguntei como ela estava. Ela disse “melhor agora” quando viu a caixa. Isso fez eu me sentir muito bem”, contou.
Nos EUA, as pessoas adotaram a abordagem “faça você mesmo” para ajudar diante da escassez de EPIs. De empresas de impressão a escolas e médicos, todos responderam ao pedido urgente de hospitais e centros de saúde que não têm equipamento de proteção suficiente para os funcionários continuarem seguros enquanto tratam os pacientes com COVID-19.
Especialistas em engenharia e tecnologia da Universidade Duke usaram laboratórios de impressão 3D para testar mais de 100 protótipos de protetores faciais. Com a ajuda de estudantes e médicos profissionais que testaram as peças, a equipe escolheu uma fita para a cabeça, impressa em 3D, para produzir um escudo facial reutilizável quando preso a um pedaço de plástico cortado a laser com alta resistência a impactos.
O grupo trabalha na produção de 1 mil fitas impressas em 3D com 65 impressoras da faculdade. Os produtos irão todos para funcionários da saúde em hospitais.
O Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH, em inglês) criou um site para ajudar a acompanhar as tecnologias de impressão 3D e produzir EPIs. O modelo da Budmen Industries que Choksi otimizou está liberado para o uso, depois de ser revisado em um teste clínico “quando fabricado conforme as instruções”, segundo o site do NIH.
Choksi disse que ela e o restante dos colegas da biblioteca, além de outros voluntários, sabem que o que estão fazendo não é uma solução a longo prazo para lidar com a falta de EPIs, mas ela espera que esse tipo de produto possa em breve ser produzido na escala necessária para suprir a demanda. “Mas até que isso aconteça, estamos trabalhando a toda velocidade”, afirmou.