Novo ministro da Saúde também contraria Bolsonaro
Foto: Divulgação/Ministério da Saúde
O ministro da Saúde, Nelson Teich, participou nesta quarta-feira (29) de audiência pública no Senado Federal para explicar as ações de combate à pandemia do novo coronavírus. Questionado por senadores ao longo de mais de cinco horas e meia, o ministro divergiu de algumas posições manifestadas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido): se disse cético em relação à hidroxicloroquina e não defende o fim generalizado do isolamento social.
Teich classificou o medicamento, um dos vetores das divergências entre Bolsonaro e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM), como “uma incerteza”. “Você teve aqueles estudos iniciais que sugeriram benefícios, mas existem estudos hoje que falam o contrário”, disse Teich durante a audiência, que foi realizada por meio de videoconferência.
O ministro afirmou que esteve em contato com a Novartis, empresa da indústria farmacêutica que produz a hidroxicloroquina. Segundo Teich, a empresa precisou “suspender bruscamente” uma produção acelerada do composto na China após dados preliminares registrarem “mortalidade alta”. “Certamente o remédio não vai ser um divisor de águas em relação à doença”,disse.
O presidente Jair Bolsonaro já defendeu o uso do medicamento em mais de um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão. No último realizado, relatou uma conversa com o cardiologista Roberto Kalil, que contraiu a COVID-19 e se tratou utilizando o composto.
Ao longo da audiência, o ministro foi confrontado por diversos senadores que o questionaram a respeito da segurança de saúde para a flexibilização do isolamento social. Nelson Teich disse ao menos cinco vezes, segundo listagem feita pelo próprio ministro, que essa não é a posição do Ministério da Saúde.
“Quero deixar claro que em momento algum estamos discutindo se vai ter distanciamento ou não, isso já está colocado. A questão é como você vai utilizar. Está sendo colocado como se a gente estivesse defendendo a liberação, mas não é isso. Vamos definir qual o nível de distanciamento e isolamento, mas não que as pessoas vão ficar se agregando de forma descontrolada, já falei isso cinco vezes aqui”.
Respondendo a uma pergunta do senador Jaques Wagner (PT-BA), o ministro disse que a pasta está se limitando a planejar “critérios” para que “haja uma flexibilização no momento certo”. Nelson Teich não deu datas para que isso ocorra e disse que a recomendação só será feita nas regiões e momentos em que os casos estejam caindo.
“O fato de nós estarmos planejando agora não significa que vamos liberar ou sugerir a flexibilização no momento em que a curva ainda está ascendente”, disse.
Desde que assumiu o cargo, o ministro da Saúde tem defendido “medidas diferentes em diferentes regiões do país”. Na primeira entrevista coletiva realizada pela atual gestão, na segunda-feira (27), o general Eduardo Pazuello, nomeado por Teich para ser seu secretário-executivo, afirmou que as medidas de isolamento deveriam ser tidas como exceção.
“Onde pode produzir e trabalhar, com as medidas preventivas necessárias e verificadas, assim tem que ser. Onde precisa ter ainda algum grau de isolamento, algum grau de distanciamento social, precisa ter também. Muito especificamente para cada lugar”, afirmou Pazuello na oportunidade.
A argumentação do presidente Jair Bolsonaro a esse respeito também tem sido mais alinhada ao que disse o general e secretário-executivo do que à postura do ministro da Saúde. Bolsonaro afirma que as medidas neste sentido adotadas por governadores e prefeitos estão sendo danosas para a economia e que a volta ao trabalho deveria ser acelerada no país.
O ministro Nelson Teich afirmou aos senadores que está “alinhado” com o presidente. Segundo ele, o alinhamento se deve à “preocupação do presidente com as pessoas e a sociedade”.
“O presidente está preocupado com as pessoas, ele está preocupado com a sociedade, não vou discutir comportamento. Mas eu posso dizer que ele está preocupado”, afirmou. Durante a audiência, diversos senadores criticaram a fala do presidente de que lamentava o número ascendente de mortes pela COVID-19 no país, mas que não havia algo que ele pudesse fazer.