PF diz a Bolsonaro que não investiga por encomenda

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Foto: Reprodução

“Não é possível produzir em uma investigação um resultado específico desejado”, afirmou a Associação dos Delegados de Polícia Federal ao presidente Jair Bolsonaro, em carta aberta divulgada neste domingo, 26, na qual aborda as reclamações do presidente sobre a investigação a respeito do atentado que ele sofreu durante as eleições 2018.

No mesmo documento, a entidade pede ‘distanciamento republicano’ do presidente, diz que relatórios diários de inteligência ao Planalto são de competência da Abin e cita uma ‘crise de confiança’ instaurada com o governo federal.

Em seu pronunciamento, ao rebater o ministro Sérgio Moro, que o acusou de interferir politicamente na corporação, o presidente disse: “Nos quase 16 meses em que esteve à frente do Ministério da Justiça, o sr. Sérgio Moro sabe que jamais lhe procurei para interferir nas investigações que estavam sendo realizadas, a não ser aquelas, não via interferência, mas quase como uma súplica sobre o Adelio, o porteiro e meu filho 04”.

“A PF de Sérgio Moro mais se preocupou com Marielle do que com seu chefe supremo. Cobrei muito deles ai, não interferi. Eu acho que todas as pessoas de bem no Brasil querem saber. E entendo, me desculpa seu ex-ministro, entre meu caso e da Marielle, o meu está muito menos difícil de solucionar, afinal de contas o autor foi preso em flagrante delito, mais pessoas testemunharam, telefones foram apreendidos, três renomados advogados em menos de 24 horas estavam lá para defender o assassino”, afirmou Bolsonaro.

Na carta aberta ao presidente, os delegados da PF afirmam que o inquérito sobre Adélio Bispo ‘recebeu total atenção da PF, e seguiu em caráter prioritário em razão de ser um crime contra a segurança nacional e a própria democracia’.”A comparação em relação a outros crimes é injusta com o órgão, pois cada investigação tem as suas características e dificuldades concretas e próprias”.

“Diante das inúmeras notícias falsas que circularam sobre o atentado, a PF prestou todos os esclarecimentos publicamente, ao menos daqueles que não prejudicassem a continuidade das investigações, para que não pairassem dúvidas sobre o inquérito policial”, afirmam os delegados.

Segundo a ADPF, ‘as linhas investigativas continuam sendo exauridas, para que ao final a sociedade tenha a certeza absoluta de que a verdade foi alcançada ou foram esgotadas todas as possibilidades de apuração’. “Entretanto, não é possível produzir em uma investigação um resultado específico desejado”.

“As atividades da Polícia Federal seguem a legislação e protocolos pré-estabelecidos e estão sob os controles da Corregedoria, do Ministério Público, do Judiciário, da Controladoria Geral da União, do Tribunal de Contas da União, das defesas e, em última análise, da sociedade organizada. Portanto, qualquer resultado que não agrade os envolvidos, até mesmo os chefes máximos dos Poderes da República, pode ser auditado e, havendo irregularidade, esta ser informada às instâncias competentes para as medidas legais cabíveis, inclusive para as punições administrativas, penais e cíveis, em caso de responsabilidade comprovada em processo regular”, dizem os delegados a Bolsonaro.

Segundo os delegados, ‘a PF atua em meio a uma cultura institucional arraigada que repudia desvios de qualquer espécie e cultua uma neutralidade político-partidária que fez a instituição ser reconhecida até mesmo internacionalmente’. “Qualquer irregularidade pode e deve ser coibida pelos meios legais previstos. A PF é uma instituição que sempre “cortou na carne” quando comprovada a participação de seus integrantes em ilícitos”.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) não apresentou recurso contra a sentença que considerou inimputável Adélio Bispo de Oliveira, que o esfaqueou na tarde de setembro de 2018, durante a campanha eleitoral.

Dessa maneira, a decisão da Justiça Federal de Minas, que o absolveu e determinou a manutenção de sua internação transitou em julgado.

Uma investigação chegou a tentar apurar supostos mandantes do crime, e resultou em buscas e apreensões no escritório de advocacia que defende Adélio. No entanto, a medida cautelar foi suspensa por ser considerada ilegal pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Estadão