População se lixa para saída de Moro, diz Datafolha

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Foto: Edu Andrade/Fatopress/Agência Estado

Os resultados da mais recente pesquisa telefônica do Datafolha trazem a crescente polarização da opinião pública e a consequente divisão do país quanto à imagem do governo.

Há menos gente considerando Jair Bolsonaro (sem partido) um presidente regular, enquanto taxas de aprovação e reprovação à sua gestão mantêm-se em patamares equivalentes. Um processo de impeachment ou a eventual renúncia do presidente também dividem os brasileiros.

Ao se comparar os dados de popularidade obtidos agora com os observados em dezembro do ano passado, último levantamento com a pergunta de avaliação geral do governo, não se percebem grandes mudanças no total.

Mas, quando se traça evoluções por estratos da população, confirma-se tendência já verificada nas pesquisas realizadas pelo instituto sobre a epidemia de coronavírus ao longo do último mês: há ligeira alteração no perfil que sustenta os índices de apoio a Bolsonaro.

Se por um lado os efeitos da crise sanitária afastaram parte dos mais escolarizados e mais ricos da base do presidente, por outro agregaram segmentos mais carentes e dependentes das políticas públicas, especialmente na área econômica.

Em relação à pesquisa de quatro meses atrás, Bolsonaro perdeu popularidade principalmente entre os que possuem renda familiar superior a cinco salários mínimos. Nesse segmento que corresponde apenas a 10% dos brasileiros, a aprovação do presidente caiu 11 pontos percentuais.

Por outro lado, entre quem tem renda de até dois salários mínimos (aproximadamente 60% dos entrevistados), a taxa de ótimo ou bom subiu oito pontos no mesmo período, grandeza idêntica à observada entre os trabalhadores autônomos e informais, com renda familiar de até três salários mínimos, habilitados, na teoria, a receber o auxílio emergencial liberado pelo governo.

Algo parecido acontece por escolaridade —a reprovação a Bolsonaro cresceu 11 pontos entre os mais escolarizados nos últimos quatro meses, e a aprovação subiu 8 entre os que têm o nível fundamental.

Nesse contexto, como não foram feitas pesquisas de avaliação geral do governo nas últimas semanas, mas sim levantamentos específicos sobre o desempenho da gestão no combate à epidemia, não é possível mensurar de forma direta os efeitos do pedido de demissão de Sergio Moro sobre a popularidade de Bolsonaro.

Os contrastes que se observam justamente nesses segmentos de menor renda e escolaridade apontam para um impacto ainda incipiente.

O baixo grau de informação e o ruído que o episódio pode ter provocado em estratos que possuem elevado peso quantitativo na composição do eleitorado minimizaram seu alcance e os reflexos se concentram nos mais escolarizados e entre os que ganham mais de cinco salários, que já vinham criticando o presidente em função de seu desempenho no combate ao novo coronavírus.

Entre os brasileiros com renda familiar mensal de até três salários mínimos, por exemplo, que correspondem a 75% da população, apesar de a grande maioria afirmar que tomou conhecimento do fato, a taxa dos que se julgam bem informados sobre a atitude do ex-ministro é inferior em 22 pontos percentuais à verificada entre os que têm renda superior a essa faixa.

Com isso, percebem-se índices altos de dificuldade desses que têm menos contato com informação em se posicionarem sobre o tema. Entre os que estudaram até o nível fundamental, por exemplo, praticamente um terço não sabe dizer, diante das acusações mútuas, se acredita mais em Bolsonaro ou em Moro. Entre os de menor renda, essa taxa é de 21%, enquanto entre os mais escolarizados cai para 11%.

Apesar de se colocarem proporcionalmente mais favoráveis à renúncia e ao impeachment do que os de maior renda, é justamente o equilíbrio entre os mais pobres, com renda familiar de até três salários, que garante a divisão da opinião pública sobre o assunto —eles são responsáveis por mais de 70% desses posicionamentos.

Mas se tem algo que historicamente marca os estratos carentes é sua volatilidade em função da dependência dos serviços públicos. E uma amostra do que pode acontecer caso a ajuda do governo não seja efetiva em outras esferas é o aumento recente da reprovação a Bolsonaro na política adotada contra o coronavírus.

Correlata à queda expressiva na avaliação do Ministério da Saúde sob Nelson Teich, o presidente deve aos mais pobres a maioria dos nove pontos de avaliação positiva que perdeu na última semana. Com a doença avançando sobre as periferias das grandes cidades, resta saber até quando o número de mortes não se projetará sobre a percepção dos cidadãos em relação a outras áreas do governo. ​

Folha De S. Paulo