Prefeitos do interior reabrem comércio em plena pandemia
Foto: Denny Cesare/Folhapress
Enquanto o governo do estado de São Paulo anunciava nesta segunda-feira (6) a renovação da quarentena devido à pandemia do novo coronavírus por mais 15 dias, em Conchal (a 171 km de São Paulo) o comércio estava aberto graças a um decreto municipal da última sexta-feira (3) que permitia o funcionamento com a adoção de regras.
Na contramão do que afirmaram o governador João Doria (PSDB) e autoridades de saúde, a cidade resolveu abrir seu comércio com a adoção de regras como uso de máscaras por funcionários e limitação de pessoas nos locais. Uma das alegações é de que a cidade não tem casos confirmados da Covid-19 —havia dez casos suspeitos nesta segunda.
São Paulo já tem 107 dos seus 645 municípios com casos de coronavírus, ante 99 registrados um dia antes, com 304 mortes. No interior, são 80 cidades, em um movimento crescente.
A situação de relaxamento das medidas de quarentena adotada em Conchal, porém, não é isolada. Em outras cidades paulistas, decisões semelhantes já foram tomadas ou surgiram movimentos pedindo a reabertura do comércio.
Franca (a 400 km de São Paulo) é uma delas. Nesta segunda, representantes do setor industrial —a cidade é polo na produção de sapatos masculinos— se reuniram com o prefeito Gilson de Souza (DEM) para pedir a retomada gradual dos estabelecimentos. O mesmo pedido já foi feito pela Acif (Associação do Comércio e Indústria de Franca) e também foi alvo de protesto em frente à prefeitura e ao imóvel em que o prefeito mora. Uma decisão deve ser tomada nesta terça-feira (7).
Já em Pindamonhangaba (a 148 km de São Paulo), a prefeitura publicou decretos que permitem o funcionamento de atividades comerciais que estavam suspensas, como feiras livres e restaurantes, além de lojas de tecidos e de materiais para construção.
O governo alega em publicações em redes sociais que o isolamento social não acabou e que os estabelecimentos comerciais que vendem outros tipos de bens seguem proibidos. Cita a permissão para lojas de tecidos com o objetivo de incentivar a confecção de máscaras caseiras.
Em Marília (a 436 km de São Paulo), a prefeitura chegou a anunciar que o comércio reabriria na última quarta-feira (1), mas recuou dois dias antes da adoção das medidas.
A previsão era de que academias, shoppings, bares, restaurantes e comércio pudessem funcionar. O prazo inicial, que terminaria nesta terça-feira (7), foi prorrogado até o dia 22, seguindo a decisão de Doria.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o prefeito Daniel Alonso disse que cerca de 80% das atividades estão funcionando, por serem consideradas essenciais. “Os pequenos empresários, o comércio da rua São Luiz e de outros locais, assim como os shoppings, são os que estão sofrendo mais. A gente defende a reabertura desses negócios de forma controlada, mas temos que seguir o que foi determinado”, afirmou.
Ao anunciar a prorrogação da quarentena até o dia 22, Doria disse que as medidas de isolamento social devem ser seguidas por todos, mesmo onde não haja casos confirmados da Covid-19.
“Prefeitas e prefeitos que estão nos assistindo aqui, vocês terão o dever, a obrigação de seguirem nas suas cidades a orientação do governo do estado de SP”, disse o governador.
No interior e no litoral, as cidades com mais casos são Santos (75), São José dos Campos (48), Campinas e Ribeirão Preto (ambas com 28 cada). Os números, porém, já são maiores que os divulgados pela Secretaria da Saúde, já que Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo) divulgou nesta segunda já ter 110 casos confirmados.
A Folha procurou o comitê criado em Conchal para o enfrentamento da Covid-19, mas servidores da administração informaram que os membros estavam em reunião e não poderiam atender. A medida poderia ser revogada, segundo eles, a partir da renovação da quarentena decidida por Doria.