Secretários da Saúde são suportes de Mandetta

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Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

Dois dos auxiliares mais próximos do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na crise do novo coronavírus têm temperamentos opostos. Enquanto o pediatra gaúcho João Gabbardo dos Reis, com experiência como gestor de Saúde, é apontado como de “pavio curto”, o enfermeiro e doutor em epidemiologia Wanderson Oliveira é descrito como um “mineiro jeitoso”, pacificador e com raízes fincadas na academia. Os dois saíram do anonimato desde que a doença se tornou motivo de uma coletiva diária para atualizar os últimos informes.

Gabbardo, secretário-executivo, é o número dois da pasta. Chegou ao posto por indicação do atual e do ex-titular do Ministério da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e Osmar Terra (MDB-RS). Foi secretário de Saúde da cidade de Santa Rosa (RS) quando Terra era prefeito. Também já comandou a pasta no Rio Grande do Sul e teve passagem anterior pelo ministério, no governo Fernando Henrique.

Apesar de pequenos entreveros com Mandetta no começo, o ministro hoje tem repetido a aliados ter “total confiança” no subordinado. Gabbardo já assumiu a posição de interino no lugar do chefe.

Fanático por maratonas, com provas concluídas em diversos locais do mundo, o secretário trabalha no meio de um turbilhão e ao lado do inseparável tablet. Sua sala, no 3° andar do prédio da Saúde, na Esplanada, é um entra e sai. Mas só de gente autorizada. Como em seu gabinete há uma série de documentos sigilosos, para acessá-lo é preciso passar o crachá por um leitor eletrônico. Antes dele, há secretárias, que contam com um segurança na parte exterior do conjunto de salas. Sem contar o vigilante do andar que fica na saída dos elevadores.

A agitação de Gabbardo pode se transformar facilmente em exasperação, segundo quem já trabalhou com ele. Um amigo de longa data corrobora a opinião de que o secretário não gosta de ser contrariado, mas o aponta como alguém dinâmico e produtivo.

Wanderson é o secretário de Vigilância em Saúde, dono de uma grande produção acadêmica na área de epidemiologia. Com passagens pregressas pelo Ministério, foi pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) antes de assumir o atual cargo, com a chegada de Mandetta. É reconhecido na pasta pela performance nos bastidores das pandemias do H1N1 e da zika.

Wanderson é um entusiasta da tecnologia. Gosta de usar aplicativos para facilitar o trabalho colaborativo. É comum ouvi-lo falar aos colegas de trabalho: “joga no drive”, quando é demandado para opinar em algum assunto. Chegou a fazer um documento relacionado à Covid-19 conjuntamente com mais de 40 pessoas a partir do compartilhamento de arquivos.

Foi Wanderson quem levou o colete do SUS para Gabbardo e Mandetta. A vestimenta é comum no Centro de Operações de Emergência, prédio fora da Esplanada dos Ministérios onde Wanderson despacha. O trio costuma aparecer com a indumentária.

Insone, não é incomum mandar, de madrugada, mensagem a colegas de equipe: “Acordado?”. O trabalho de enfrentamento à epidemia, porém, cobrou seu preço. Na entrevista da última quinta-feira no Palácio do Planalto, o microfone aberto captou um lamento do secretário.

— Coluna tá que dói — disse Wanderson.

— Tomar uma medicação para você sarar — respondeu Mandetta.

— Tá doendo demais, ministro. Não tive tempo de ir ao médico — devolveu o secretário.

No dia seguinte, o ministro explicou a ausência do fiel escudeiro. Uma inflamação na hérnia de disco da coluna lombar deixou Wanderson sem conseguir andar. O chefe, que é ortopedista, disse que deu 72 horas para que se restabeleça. Mas integrantes da equipe dizem que ele seguiu trabalhando de casa.

Observadores da crise apontam Wanderson como um formulador, estrategista. Gabbardo, um realizador, que faz acontecer. A dupla dá a sustentação necessária para que Mandetta possa se preocupar com os movimentos políticos, como se contrapor a Bolsonaro no que diz respeito às recomendações de isolamento. Em uma análise fria, um aliado aponta que Mandetta “não é epidemiologista nem especialista em atenção à saúde, é um ortopedista de boa formação que foi secretário de Saúde, a arena dela é política”.

O Globo