Senado tem onda de revolta com Bolsonaro
A participação do presidente Jair Bolsonaro em protesto, no domingo, em defesa de uma intervenção militar no país causou indignação entre os líderes do Senado. Em conversas reservadas desde domingo, os senadores traçaram diversas possibilidades de atuação, desde uma volta coletiva para Brasília e formar uma frente suprapartidária, até deixar o presidente Jair Bolsonaro falando sozinho.
Marcada para votar a ampliação do auxílio emergencial de R$ 600, a sessão desta segunda-feira do Senado foi desmarcada. Oficialmente, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), relacionou o cancelamento à decisão de Bolsonaro de revogar a medida provisória que cria o programa Verde e Amarelo, reeditando trechos. No Twitter, ele comemorou a decisão. O Senado já havia anunciado que não votaria a MP.
Na análise de senadores, porém, Alcolumbre, como moderador da crise, desmarcou a sessão para evitar que o desgaste entre Congresso e Bolsonaro se ampliasse. Em reunião prévia entre senadores, que tem sido feita meia hora antes de todas as votações virtuais, a maior parte dos parlamentares que se manifestaram foi na direção de Bolsonaro. Indignados, eles repudiaram a presença do presidente no protesto. Esse seria o tom da sessão de hoje, dizem senadores.
No grupo de líderes, no domingo, a conversa começou depois de a imprensa noticiar o discurso de Bolsonaro no protesto. Líder do Pros, Telmário Mota (RR) disse que os senadores deveriam voltar para Brasília imediatamente – “se necessário de carro” – para uma reunião em plenário com o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP). “União, união, união”, pregou Mota. A maioria dos senadores está em seus estados, participando remotamente das sessões.
Presente no grupo, Alcolumbre não se manifestou. Os líderes do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), e no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), também ficaram calados durante a conversa.
Mas o partido dos dois líderes se manifestou. Maior bancada da Casa, com 13 senadores, o MDB sugeriu a criação de uma frente suprapartidária em defesa da democracia. A sugestão do líder Eduardo Braga (AM) foi apoiada por colegas.
Já o líder do PSD, Otto Alencar (BA) disse que a participação de Bolsonaro no ato é prova de que o governo dele fracassou. “Ele sabe que, com um golpe militar, não seria ele que estaria à frente do país”, escreveu. No calor da discussão, ao defender a democracia, ele ainda disse que daria seu sangue. “Podem contar comigo em qualquer circunstância para defender a democracia e a Constituição. Não votei no Bolsonaro e jamais teria a fraqueza de ocupar qualquer cargo num governo, que, de forma covarde, apela para incitar um golpe militar. Se quiserem sangue, tenho o meu para ofertar.”
A líder do Cidadania, Eliziane Gama (MA), defendeu que é hora de uma “medida mais concreta”. Para ela, nota de repúdio e voto de censura já não adiantam mais.
Já o líder do PSL, Major Olímpio (SP), prega que é melhor deixar Bolsonaro falando sozinho. Para ele, tem que “fazer igual à brincadeira café-com-leite e deixar ele para lá”.