Trancados em carros, bolsomínions protestam contra isolamento
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Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro saíram às ruas na tarde deste sábado, em São Paulo, para protestar contra as medidas tomadas pelo governo estadual para combater o coronavírus. Numa carreata de carros e motos enfeitados com bandeiras do Brasil, os manifestantes expuseram em que atacam o governador João Doria (PSDB) e defenderam a postura de Bolsonaro frente à crise.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o distanciamento social para frear a disseminação do covid-19, que já deixou 20,7 mil contaminados no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde divulgados neste sábado. O país registra 1.124 mortes. Governos de todo o mundo têm adotado as recomendações para restringir a epidemia.
A carreata percorreu importantes vias como a Avenida Paulista, onde ocupou duas faixas ao longo de alguns quarteirões, a avenida Rebouças, os entornos do Parque Ibirapuera e a Ponte Estaiada. Por onde passou, o ato despertou curiosidade e indignação da população que tem aderido às recomendações de especialistas e de autoridades públicas para ficar em casa e evitar a circulação pela cidade.
A manifestação ocorre dias após o governo de São Paulo ter detectado, por meio do Sistema de Monitoramento Inteligente (Simi-SP), o menor percentual de isolamento social no estado, de 49% na quarta-feira.
A taxa estava bem abaixo da adesão ideal para controlar a disseminação do coronavírus, de 70%, de acordo com o coordenador do Centro de Contingência do covid-19 em São Paulo, o infectologista David Uip. No feriado da Sexta-feira Santa, no entanto, o índice subiu para 57%.
O governador João Doria afirmou nesta semana que pessoas que fizerem aglomeração nas ruas serão advertidas e orientadas, mas poderão ser presas pela Polícia Militar se insistirem em quebrar a quarentena. Viaturas policiais estão monitorando a movimentação nas ruas e usando autofalantes para transmitir a orientação para que a população evite sair de casa.
Na Avenida Paulista, neste sábado, um dos líderes do movimento contra o isolamento social discursou para um grupo de cerca de 20 pessoas, que reagia com gritos de “fora, Doria”, “traidor da pátria” e “Doria comunista”. Mesmo com os mais de 100 mil mortos no mundo pela doença, ele chegou a dizer que “o coronavírus não existe”.
— Pessoal, venha para a Paulista. Não seja um rato, não fique dentro de suas casas. Venha se manifestar nas ruas. Não acredite nessa mentira, o coronavírus não existe. Isso é um resfriado que sempre existiu. Não entregue a sua vida na mão dos comunistas, eles estão acabando com o Brasil — declarou o homem.
Um vídeo publicado por um apoiador no momento da manifestação mostra, ao fundo, a carreata bloqueando as duas vias da Avenida Paulista e impedindo a passagem de três ambulâncias. Sem se dar conta das sirenes disparadas pelos veículos para tentar furar o congestionamento, o manifestante enaltece o tamanho do protesto para a câmera: “Paramos a Avenida Paulista e vamos parar São Paulo. Fora, Doria”. A publicação foi compartilhada milhares de vezes por bolsonaristas.
Em outro momento, uma das lideranças discursou contra a China e a imprensa e a uma conspiração para prejudicar o presidente Bolsonaro. O empresário Otávio Fakhouri, ex-tesoureiro do PSL de São Paulo e aliado de Jair Bolsonaro, publicou um vídeo em seu Twitter enaltecendo o ato.
— João Doria, seus dias estão contados. Você passou dos limites. Esse povo está por aqui com você. O povo vai arrancar você do seu bercinho, seu ditador — disse Fakhouri.
A reivindicação do protesto vai ao encontro do que o presidente Jair Bolsonaro tem defendido. Em pronunciamentos na TV, pelas redes sociais e em encontros na saída do Palácio da Alvorada, ele tem pregado a “volta à normalidade” e atacado governadores e prefeitos que têm mantido restrições mais rigorosas ao funcionamento comercial, de forma a combater a epidemia.
Após visitar o primeiro hospital de campanha construído pelo governo federal, em Águas Lindas (GO), na manhã deste sábado, Bolsonaro causou novas aglomerações. Sem usar máscara, o presidente foi ao encontro de apoiadores para cumprimentá-los, contrariando as recomendações da OMS e do Ministério da Saúde.