Witzel diz que desconhecer negociação com tráfico e milícia em favelas

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 Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

O governador do Rio, Wilson Witzel, disse, nesta quinta-feira, em entrevista ao “Bom Dia Rio”, que desconhece qualquer ação do governo federal em comunidades do estado para tentar frear os casos de coronavírus. Nesta quarta-feira, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, anunciou que há um plano piloto em andamento para conter o avanço do doença em favelas do país. Na ocasião, ele disse que é preciso ter diálogo com tráfico e milícia em nome da saúde pública.

– Desconheço esse diálogo com tráfico e milícia. Vou perguntar ao secretário de Saúde. A mim não chegou nada. Nossos planos são de falar para as pessoas ficarem em casa. Estamos procurando hotéis para abrigar idosos – disse Witzel.

Ele se mostrou preocupado com o risco de avanço da doenças nas favelas:

– São locais de alta vulnerabilidade, com índice alto de tuberculose. A solução mais plausível para o momento é ficar em casa.

Witzel admitiu que, caso haja orientação de especialistas de saúde, pode haver lockdown – isolamento total de pessoas – no Rio. E defendeu um endurecimento na legislação para punição mais severa para quem quebrar a quarentena e ainda o pagamento de multa. Sobre as aglomerações que ainda são vistas, ele cobrou das prefeituras fiscalização mais rigorosa.

– O transporte público está reduzido em torno de 70%. Prefeitos têm que isolar essas áreas (onde há aglomerações). Colocar fita, barreira. A polícia está à disposição dos municípios. Se o calçadão está lotado, isola. Se a pessoa que for proibida de estar ali insistir, é crime de desobediência (artigo 330 do Código Penal) e de colocar em risco saúde de outra pessoa (artigo 168 do Código Penal).

Na avaliação do governador, a legislação não ajuda muito.

– São crimes de menor potencial ofensivo. Tem que ser feita uma legislação federal que preveja multa. É preciso ter multa (para quem sair do isolamento), são nencessários instrumentos para medidas mais duras. (A lei) Não permite hoje prisão em flagrante. Se especialistas em medicina orientarem, adoto o lockdown. Nossa curva (de casos de coronavírus no Estado) está indo bem. O mau exemplo vem de áreas onde há pessoas indo para a rua.

O governador lamentou o que chamou de um leilão mundial de equipamentos essenciais no combate ao coronavírus, como respiradores e testes para confirmar a doença. De acordo com ele, isso é feito por “pessoas desumanas”.

– Talvez não consigamos ter testes em quantidades que nós gostaríamos. Um drama terrível. Testes estão sendo leiloados por pessoas desumanas. Estamos tentando correr para produzir testes. Ninguém imaginava que íamos passar por isso, então não houve preparação em lugar nenhum do mundo. Nossa proposta é de 1.400 respiradores, mas não estamos conseguindo. Temos 400 respiradores hoje. Peço, pelo amor de Deus, para as pessoas não irem para a rua – disse.

Ele destacou que há uma possibilidade de indústrias locais produzirem respiradores, mas há dificuldades nesse processo, uma vez que as peças dos aparelhos são importadas:

– O problema dos respiradores é que a grande maioria é construída na China, que está tendo dificuldade em fornecer. Não encontrei ainda empresas que possam entregar um equipamento com segurança. Além disso, os componentes desses equipamentos são importados. Vai cair no mesmo problema. Então, tem que conscientizar a população para ficar em casa.

Ao falar sobre a liberação de circulação de pessoas nas ruas e abertura de comércio em 30 municípios que não tenham registrado casos de Covid-19, Witzel disse que não se trata de flexibilização.

– As cidades do interior estão fechadas. Não estamos fugindo ao protocolo. Vimos que essas cidades que não têm vírus circulando poderiam ter comércio liberado. É uma combinação de salvar vidas com resolver questão econômica – disse.

Ele frisou que as restrições podem voltar caso seja identificado algum caso de Covid-19 nessas cidades:

– Vamos passar uns dois anos fazendo esse controle. Abre a torneira, fecha a torneira. Os prefeitos tomam decisões e vamos aceitar.

Witzel destacou ainda que a há dinheiro em caixa para abril e maio:

– Estamos trabalhando para nos próximos dois meses conseguirmos vencer dificuldades. O dinheiro em caixa hoje é suficiente para abril e maio. Estávamos com boa arrecadação.

O Globo