Agronegócio começa a se afastar de Bolsonaro

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O agronegócio, uma forte base de apoio a Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, está reduzindo o apoio ao presidente.

A agropecuária ainda está com ele, mas o agronegócio, como um todo, começa a repensar esse apoio.

Essa é a avaliação de um ex-participante do Ministério da Agricultura, que define a agropecuária como os setores que atuam dentro da porteira, e o agronegócio, de modo mais amplo, como os fora dela.

O presidente tem apoio maior na agropecuária porque os produtores são simpáticos às políticas do seu governo, principalmente as relacionadas ao ambiente, à demarcação de terras indígenas e à reforma agrária, temas caros ao setor.

Não são todos, mas os que estão com o presidente são bastante ativos e têm muita atuação nas mídias sociais.

Já o setor fora da porteira, que depende da normalidade da atividade, tanto nas relações internas como nas externas, começa a avaliar melhor o cenário porque tem muito a perder, segundo outro ex-participante da Agricultura.

As atitudes do presidente, da família dele, de alguns ministros e até de produtores e de associações mais exaltados estão se tornando ameaças concretas ao setor.

Essa preocupação vem até da base parlamentar do presidente na Câmara. Um deputado ligado ao centrão diz que o grupo está com o presidente, mas que fica cada vez mais difícil apagar os incêndios provocados por atitudes dele e de sua família.

Outro parlamentar diz que esses afrontamentos desnecessários atrapalham e se pergunta o que o país tem a ganhar com essas brigas.

Mas as preocupações maiores vêm de empresas, consultorias, exportadores, indústrias de insumos e frigoríficos.

Essas lideranças estão incomodadas com a volta do toma lá dá cá, o que muda o combinado com os eleitores.

Além disso, certas atitudes e ataques do governo avançam perigosamente na direção contrária à manutenção de um bom fluxo externo. O agronegócio é um dos setores menos afetados na atual pandemia e com um bom fluxo de exportações, segundo eles.

Os produtores com uma visão melhor de mercado, que sabem quanto o agronegócio brasileiro depende do exterior, estão incomodados com essas investidas contínuas de Bolsonaro e da família dele contra o Congresso, o Supremo e os grandes importadores de alimentos do Brasil, como a China e o Irã. Está na hora de menos mídia social e mais gestão, segundo eles.

Na avaliação de um parlamentar, o produtor poderá prejudicar a própria agricultura com esse radicalismo. Parte deles não quer mais discussões técnicas, mas apenas debate político em redes sociais.

Há confronto entre os próprios produtores. Enquanto algumas associações demonstram apoio a Bolsonaro, produtores afirmam que essa não é a função de entidades que têm por objetivo defender as causas do campo.

Segundo o dirigente de uma associação, preocupa o pensamento de parte dos produtores de que o agronegócio não depende de ninguém e de que os importadores, principalmente os chineses, vão ter de “comer em nossas mãos”.

Mercado é sempre mercado e está sujeito a mudanças bruscas, segundo ele, que se pergunta o que o país faria com tanta soja e milho sem os principais importadores.

Parte das lideranças está consciente de que é preciso agir à altura das provocações do gabinete do ódio, que agora mira também o agronegócio e a ministra Tereza Cristina.

Quanto à ministra, embora tudo seja possível neste governo, sua demissão, solicitada por parte dos que temem a China, não será fácil.

Tereza Cristina, além de ser um diferencial no governo, na avaliação do setor, foi colocada com o apoio da bancada ruralista, uma das bases de sustentação do presidente.

Quem ganha mais luz do que o presidente corre o sério risco de ser expulso do governo. Não é o caso dela, que, apesar de não ser bolsonarista, se mantém atuante, mas discreta no cargo.

Folha de SP