Associação judaica repudia Weintraub

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Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

O Comitê Judaico Americano repudiou uma postagem feita pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, por considerá-la “profudamente ofensiva aos judeus do mundo” e “um insulto às vítimas e sobreviventes do terror nazista”. Weintraub comparou, na quarta-feira, uma operação de busca e apreensão feita pela Polícia Federal, no inquérito sobre as redes de ameaças e fake news, à Noite dos Cristais, que marcou o início da perseguição sistemática dos nazistas aos judeus na Alemanha.

No Twitter, a organização ainda criticou a “repetida politização da linguagem do Holocausto por funcionários do governo brasileiro”. No mês passado, a associação já havia exigido um pedido de desculpas do chanceler Ernesto Araújo, que comparou o isolamento social para conter a Covid-19 a campos de concentração nazistas.

 

Fundado em 1906, o Comitê Judaico Americano é uma das organizações mais antigas e influentes em defesa dos direitos civis de judeus e parte importante do lobby pró-Israel nos EUA.

Weintraub, que é judeu, usou suas redes sociais para comparar a ação da Polícia Federal de quarta-feira à ação da polícia política nazista na Alemanha de Adolph Hitler. No Twitter, afirmou que a operação será lembrada como a Noite dos Cristais brasileira — um dos primeiros atos violentos cometidos por forças paramilitares nazistas contra judeus entre os dias 9 e 10 de novembro de 1938.

No Brasil, a Confederação Israelita, por meio de uma nota oficial, também condenou a comparação feita pelo ministro, “totalmente descabida e inoportuna, minimizando de forma inaceitável aqueles terríveis acontecimentos, início da marcha nazista que culminou na morte de 6 milhões de judeus, além de outras minorias”.

“Não há comparação possível entre a Noite dos Cristais, perpetrada pelos nazistas em 1938, e as ações decorrentes de decisão judicial no inquérito do STF, que investiga fake news no Brasil. A Noite dos Cristais, realizada por forças paramilitares nazistas e seus simpatizantes, resultou na morte de centenas de judeus inocentes, na destruição de mais de 250 sinagogas, na depredação de milhares de estabelecimentos comerciais judaicos e no encarceramento e deportação a campos de concentração. As ações do inquérito, por sua vez, se dão dentro do ordenamento jurídico, assegurado o direito de defesa, ao qual as vítimas do nazismo não tinham acesso”, afirma a Confederação Israelita.

Um dos expoentes da ala ideológica do bolsonarismo, Weintraub tem ligação muito próxima com os filhos do presidente Jair Bolsonaro, especialmente o deputado Eduardo (PSL-SP) e o vereador Carlos (Republicanos). Na operação da quarta-feira, nomes próximos do bolsonarismo foram alvo, como o blogueiro Allan dos Santos.

“Hoje foi o dia da infâmia, VERGONHA NACIONAL, e será lembrado como a Noite dos Cristais brasileira. Profanaram nossos lares e estão nos sufocando. Sabem o que a grande imprensa oligarca/socialista dirá? SIEG HEIL!”, escreveu o ministro, que ainda usou uma imagem nazista para ilustrar sua publicação.

Na terça-feira, o ministro do STF Alexandre de Moraes — também responsável pelo inquérito das fake news — deu cinco dias para Weintraub depor à Polícia Federal sobre suas afirmações durante a reunião ministerial de 22 de abril, que motivou a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e cuja gravação foi divulgada por ordem do STF na semana passada. “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”, disse Weintraub na reunião.

Para Alexandre de Moraes, há “indícios de prática” de seis delitos. Weintraub poderia ser enquadrado por difamação e injúria, pelo Código Penal, e em outros quatro artigos da lei de segurança nacional.

O Globo