Bolsonaro confessa que citou PF
Foto: Jorge William / Agência O Globo
Um dia depois de a Advocacia-Geral da União (AGU) enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a transcrição de trechos da reunião ocorrida em 22 de abril, citada pelo ex-ministro Sergio Moro como prova de que Jair Bolsonaro tentou interferir nas atividades da Polícia Federal, o presidente admitiu nesta sexta-feira que citou a corporação durante sua fala ao conselho de governo. Ao longo da semana, Bolsonaro negou que a tenha mencionado o órgão federal na reunião ministerial.
Ao ser indagado sobre o significado da frase “vou interferir e ponto final”, ele disse esperar que a gravação se torne pública e que a interferência seria no contexto da segurança da sua família, de responsabilidade do Gabinete de Segurança Institucional. Ele também confirmou a veracidade da transcrição da AGU.
Bolsonaro afirmou ainda que reclamou da corporação “no tocante ao serviço de inteligência”. Questionado sobre o teor da transcrição, ele protestou contra o que chamou de “palhaçada”, disse que não se submeteria a um interrogatório feitos pelos repórteres e encerrou a entrevista abruptamente.
Segundo a AGU, o presidente disse na reunião que não poderia “ser surpreendido com notícias”.
“Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho as inteligências das Forçar Armadas que não têm informações, a ABIN tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente… temos problemas… aparcelamento, etc. A gente não pode viver sem informação. Quem é que nunca ficou atrás da… da… da… porta ouvindo o que o seu filho ou a sua filha tá comentando? Tem que ver pra depois… depois que ela engravida não adiante falar com ela mais. Tem que ver antes. Depois que o moleque encheu os cornos de droga, não adianta mais falar com ele: já era. E informação é assim”, disse Bolsonaro na reunião.
Em seguida, é feito um comentário sobre “nações amigas”, que não foi transcrito pela AGU. O presidente então complementa: “Então essa é a preocupação que temos que ter: a questão estratégia. E não estamos tendo. E, me desculpe, o serviço de informação nosso — todos — é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça. Não é extrapolação da minha parte. É uma verdade”, concluiu.
Em outro trecho entregue pela Advocacia-Geral da União, que representa Bolsonaro no processo, o presidente disse querer trocar a “segurança nossa” no Rio.
“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f* minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”, declarou.
A AGU diz na petição ao ministro Celso de Mello, relator do inquérito no STF, que o termo “segurança nossa” se referia à segurança presidencial, a cargo do Gabinete de Segurança Institucional, e não à Polícia Federal. Fontes que assistiram o vídeo, porém, afirmam que o contexto da frase é no âmbito de investigações e que a referência à “troca de ministro” era claramente a Moro. Além disso, por lei, a responsabilidade pela segurança da família do presidente não fica com a Polícia Federal, e sim com o GSI, chefiado por Augusto Heleno.