Bolsonaro quer transformar Aras em engavetador, diz jornal

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Foto: Marcos Corrêa / Presidência da República

Ao escolher Augusto Aras como procurador-geral da República fora da lista tríplice elaborada pela categoria, o presidente Jair Bolsonaro visava ter na função alguém que lhe devesse o cargo de forma exclusiva. Acuado por uma investigação contra si no Supremo e por outras apurações contra aliados, o presidente busca agora colar Aras a si de forma definitiva.

De um pedido para visitá-lo na segunda-feira a uma condecoração nesta sexta-feira, em que também foi homenageado Abraham Weintraub, o titular da pasta de Educação que defendeu a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro passou a semana fazendo gestos para aquele que o investiga. Inclusive citando o nome de Aras como possível indicação sua ao STF. Acusado de interferir de forma indevida na Polícia Federal, o presidente tenta fazer com que o Ministério Público lhe seja dócil.

Aras tem sido permeável à corte que lhe é feita por Bolsonaro, mas tenta se equilibrar para não perder o comando de fato do MP. Em um claro gesto ao presidente, questionou junto ao Supremo a continuidade do inquérito das fake news após bolsonaristas terem sido alvo das investigações. Mas tem levado adiante investigações contra apoiadores de Bolsonaro que promoveram protestos antidemocráticos contra o Congresso e o STF.

Alçado ao cargo já sob suspeição, o procurador-geral sabe que precisa demonstrar o mínimo de independência para manter algum controle sobre a instituição que comanda. Seu paralelo no cargo é o de Geraldo Brindeiro, titular da PGR durante oito anos no governo de Fernando Henrique.

Brindeiro ganhou o apelido de “engavetador-geral” por decisões favoráveis ao governo. Mas passou a ser ignorado por vários procuradores, especialmente na primeira instância, que levavam adiante os casos se valendo da autonomia funcional de seus cargos. O risco de Aras é de que, se no MP a sensação passar a ser de que ele age como um segundo advogado-geral da União, sua autoridade seja questionada e sua situação fique insustentável, dentro e fora da instituição.

O Globo