Bolsonaro vive ilusão sobre economia

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Foto: Adriano Machado/REUTERS

Na quinta-feira (7), o presidente Bolsonaro levou empresários que estão sofrendo prejuízos durante a pandemia para pressionar o presidente do STF, Dias Toffoli. Sobre as questões econômicas levantadas na reunião, a Sputnik Brasil ouviu a economista Juliana Inhasz, que afirma que o país precisa pensar no longo prazo.

Acompanhados do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, empresários de diversos setores estiveram em Brasília para pressionar o governo pela reativação econômica do país.

A presença dos empresários na quinta-feira motivou alvoroço na capital devido ao fato inusitado de que Bolsonaro os levou caminhando até a sede do Supremo Tribunal Federal (STF), onde solicitou sem prévio aviso uma reunião com o presidente do STF, Dias Toffoli.

Durante a reunião, transmitida em redes sociais, Bolsonaro citou uma decisão recente do STF que garantiu como prerrogativa de estados e municípios as decisões sobre o isolamento social.

As restrições, recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e adotadas mundo afora para conter a pandemia da COVID-19, são encaradas com ceticismo por Bolsonaro, que defende a retomada e alerta sobre os impactos das medidas sobre a economia. Paulo Guedes, após a reunião, chegou a dizer que a economia brasileira está a ponto de colapsar.

Juliana Inhasz, coordenadora de Graduação do Curso de Economia do Insper e especialista em Conjuntura Econômica, aponta que a desaceleração da economia brasileira é natural devido às restrições impostas pelo isolamento social. Para ela, a melhor solução é garantir a efetividade do isolamento social para que a medida possa ser encerrada com segurança o mais rápido possível, uma vez que a reabertura precoce pode causar danos ainda maiores à economia.

“Talvez se a gente conseguir, de fato, manter nesse primeiro momento, ainda que sob danos econômicos relativamente altos, uma economia inativa e uma população isolada, a gente consiga ativar essa economia com maior sucesso em um curto prazo”, afirma a economista em entrevista à Sputnik Brasil.

A economista alerta ainda que mesmo a retomada imediata da atividade econômica não traria resultados neste momento. Por isso, Inhasz classifica a ideia de retomada, defendida por Bolsonaro, como uma ilusão.
“Se a gente reativar a economia hoje, a demanda não volta hoje. É um pouco de ilusão até do presidente achar que diminuindo o isolamento a gente consegue fazer uma volta ao que a gente era. É uma grande ilusão. O nosso passado antes da pandemia não existe mais no futuro. O nosso futuro é uma nova realidade, o nosso novo normal é um normal certamente muito diferente do pré-pandemia”, diz.

Há uma necessidade que vem sendo deixada de lado, segundo a economista, de se pensar o momento da retomada da economia após o período necessário de isolamento. Para ela, o Brasil já vinha de sobressaltos econômicos e o governo precisa planejar esse momento com uma nova abordagem para evitar outras crises.

“A gente precisa não só que o governo faça suas políticas, como tem feito, mas que também pense estratégias de longo prazo. Acho que falta um tanto isso. O governo não tem pensado em estratégias no pós-pandemia”, alerta a pesquisadora.
Segundo Inhasz, a economia brasileira está em uma situação crítica, mas ela acredita que isso não é apenas um efeito da pandemia.

“Ela [a situação] é crítica porque o Brasil já vinha de uma situação crítica. A gente vem aí de uma tentativa de recuperação econômica que não foi completamente bem sucedida”, aponta a economista, que acrescenta que o país não estava preparado para viver uma crise dessa magnitude.

Para a pesquisadora, os países com as economias ajustadas estão lidando melhor com a situação e é necessário que o Brasil reveja o olhar sobre o setor econômico daqui para a frente.

“É uma mudança de perfil da economia brasileira, é uma mudança social da economia brasileira que está em jogo. A gente não precisa, óbvio, definir todos os rumos que a gente vai tomar agora, mas precisamos saber como a gente quer a sociedade brasileira daqui para a frente”, diz Inhasz.
Para ela, uma das bases dessa mudança de pensamento deve estar no olhar para a desigualdade social.

“A gente não quer uma economia afundada, mas a gente também não quer uma sociedade que tenha uma grande discrepância social, que tenha índices terríveis de criminalidade e de violência porque a distribuição de renda é caótica”, aponta.

Sputnik