Cotado para ministro da Saúde é racista

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Foto: Reprodução

O médico Italo Marsili, que está em plena campanha para se tornar o novo ministro da Saúde embalado pela ligação com o professor on-line de filosofia Olavo de Carvalho, se identifica como “psiquiatra católico”. Não tem registro como psiquiatra, mas efetivamente é católico.

Em uma live com Pedro Delfino, que se apresenta como “escritor, católico, conservador, de direita”, no último dia 7 de maio, Marsili falou de temas que iam do “plano chinês de hegemonia global” ao aborto e à política no Vaticano. E, lá pelas tantas, saiu-se com essa: “Papa negão? É africano, porra, não vai funcionar”.

Foi neste momento que Marsili discordou do anfitrião na defesa do cardeal de Guiné (também conhecida como Guiné-Conacri, para se diferenciar de Guiné-Bissau) Robert Sarah como opção para eventual substituição ao papa Francisco na liderança da Igreja Católica. Sarah — ortodoxo, ritualístico — é o prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos no Vaticano.

É tido como “líder da oposição” ao papa argentino. Virou uma espécie de luminar para o conservadorismo católico mundial, que vê em Jorge Bergoglio um Che Guevara de batina, esclavina (pequena capa usada sobre a túnica) e solidéu (gorro de seda) predominantemente brancos. É autor de frases como a de que a Igreja Católica “não é uma ONG” e portanto devia “falar mais de Deus” do que de “migrantes marginalizados e pessoas sem teto”

Para o médico olavista — que se declara mestre em matrimônio e família pelo Instituto de Ciências para a Família da Universidade de Navarra (na Espanha, berço e abrigo da ultraconservadora Opus Dei) e registra ter trabalhado como psiquiatra forense canônico no Tribunal Eclesiástico de São Sebastião do Rio de Janeiro —, entretanto, Sarah não pode assumir a liderança católica mundial quando Francisco se for. O motivo alegado não é alguma discordância teológica ou mesmo ideológica:

“Eu entendo, papa negão ia ser ótimo por certo motivo, mas é negão, é africano, porra, não vai funcionar, não é da mesma categoria do americano”, diz o médico, de 34 anos. Na transmissão, ele afirma que só um “papa americano ou alemão” teria chance de “unificar o poder temporal com o espiritual” e “liderar o bloco conservador contra o comunismo, o globalismo e o Islã”. Veja (a partir dos 23’30, especialmente):

Sobre a crise que tira a vida de centenas de brasileiros por dia, a análise do candidato olavista ao Ministério da Saúde é bem próxima ao que quer Bolsonaro. Em conversa com a jornalista Leda Nagle no último dia 13 de maio, quando o Brasil já registrava mais de 13 mil mortes, ele disse que os problemas psicológicos que estão sendo causados pela quarentena são a parte mais grave.

“O vírus não respeita quarentena”, afirmou Marsili, repetindo tese de um concorrente ao cargo, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS). Ele também chamou de “ditatoriais” as medidas de isolamento impostas por prefeitos e governadores e criticadas por Bolsonaro.

Metrópoles