Covid19 é a maior causa de mortes em 15 anos

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Foto: FABIO TEIXEIRA/NURPHOTO VIA GETTY IMAGES

Sem precedentes. Assim a epidemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, marcará os livros de história brasileira. A enfermidade que já matou ao menos 20.047 pessoas no país, e é uma emergência de saúde global, supera os óbitos de todas as tragédias nacionais dos últimos 15 anos.

No período não houve acidentes aéreos, desastres naturais – como chuvas e enchentes –, incêndios, naufrágios, rompimento de barragens ou atentados que, somados, tenham vitimado mais brasileiros.

Um levantamento do Metrópoles mostra que as mortes provocadas pelo novo coronavírus superam em oito vezes aquelas causadas por 17 catástrofes (veja lista no fim da reportagem).

Para se ter dimensão do número, há 88,3% mais falecimentos durante a pandemia do que reunindo todas essas fatalidades. Entre 2006 e 2019, 2.355 pessoas morreram em catástrofes pelo país.

Algumas ocupam a memória dos brasileiros até hoje, como o acidente aéreo em Congonhas (SP), em 2006; os deslizamentos de terra na região serrana do Rio de Janeiro, em 2011; o incêndio na boate Kiss, em 2013; e o rompimento da barragem de Brumadinho (MG), no ano passado.

O cientista social Antônio Carlos Mazzeo, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), explica que a pandemia ficará marcada na história como ficaram a peste negra no século 14 e a gripe espanhola em 1918. “Vai marcar a nossa geração. Fica marcado na memória”, explica.

Ele reforça que o impacto das mortes e dos adoecimentos é carregado pela famílias. “A minha avó morreu com mais de 90 anos. Quando eu era menino, ela já era anciã e contava de pessoas próximas que morreram com a gripe espanhola. Tivemos um presidente da República vítima da doença [Afonso Pena]”, relembra.

Os livros de história só apontam mais mortes nas proporções que o coronavírus está causado no país durante guerras e conflitos armados. No decorrer da Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870, cerca de 50 mil brasileiros perderam a vida nos campos de batalha.

Em 1932, a Revolução Constitucionalista provocou a morte de 934 combatentes em pouco menos de 90 dias de batalhas, segundo dados oficiais. Ao longo da Segunda Guerra Mundial, 462 pracinhas perderam a vida nos campos da Itália, entre setembro de 1944 e maio de 1945. Mesmo em situações extremas como essas, o número de óbitos não chegou aos atuais.

Segundo Antônio Carlos Mazzeo, a população vive uma dualidade. “Uma parte não acredita e acha que é uma propaganda ideológica, como acredita o grupo ligado ao presidente Jair Bolsonaro. A parcela majoritária da população sabe que existe, que mata, e sabe onde as mortes são mais intensas: entre os pobres e em lugares mais vulneráveis”, frisa.

Antônio Carlos Mazzeo conclui: “As pessoas sabem das tragédias humanas que abatem a nossa sociedade, mas essa, com certeza, é uma das maiores catástrofes humanas que assistiremos”, pondera.

Tragédias no Brasil entre 2006 e 2019 mataram menos que o coronavírus:

2006

Acidente com avião da Gol em Mato Grosso – 154 mortos
2007

Acidente aéreo em Congonhas (SP) – 199 mortos
2008

Chuvas e enchentes em Santa Catarina – 135 mortos
2010

Deslizamento de terra provocado por fortes chuvas na favela do Morro do Bumba, em Niterói (RJ) – 267 mortos
2011

Catástrofe na região serrana do Rio de Janeiro – 917
Massacre em escola de Realengo (RJ) – 12 mortos
2013

Incêndio na boate Kiss – 242 mortos
2015

Rompimento da barragem de Mariana (MG) – 19 mortos
2016

Queda do voo da Chapecoense – 71 mortos
2017

Naufrágio da embarcação Cavalo Marinho 1 (BA) – 23 mortos
2018

Incêndio e desabamento de prédio de 24 andares do Largo do Paissandu, no Centro de São Paulo – 9 mortos
Tiroteio na Catedral Metropolitana de Campinas (SP) – 6 mortos
2019

Rompimento da barragem de Brumadinho (MG) – 250 mortos
Incêndio no Ninho do Urubu – 10 mortos
Massacre em escola de Suzano (SP) – 10 mortos
Incêndio no Hospital Badim (RJ) – 22 mortos
Pisoteamento em baile funk em Paraisópolis (SP) – 9 mortos

Metrópoles