Entenda por que fala de Weintraub ofendeu judeus

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Foto: HULTON ARCHIVE/GETTY IMAGES

A data do dia 9 de novembro de 1938 foi batizada de “Noite dos Cristais” e marcou o início da investida da Alemanha Nazista contra o povo judeu. Nesse dia, no país sob domínio de Adolf Hitler, foram queimadas 256 sinagogas, destruídos cerca de 7 mil estabelecimentos comerciais e quase 100 judeus foram assassinados pelo aparato nazista. A data marcou o início da perseguição em massa que resultou no genocídio de mais de 6 milhões de pessoas.

O episódio foi citado nessa quarta-feira (27/05) pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, que criticou a ação da Polícia Federal (PF), no âmbito do inquérito das fake news, que realizou 29 mandados de busca e apreensão em seis unidades da federação. Ele disse que a operação será lembrada como a “Noite dos Cristais brasileira”.

“Comparar isso não tem o menor sentido”, rebateu o escritor judeu Marcio Pitliuk, curador do memorial do holocausto de São Paulo. Ele enfatiza que a operação da PF foi deflagrada dentro do Estado de Direito, ao contrário do que aconteceu na Alemanha nazista. Veja o post de Weintraub:

 

Organizada pelo então ministro da Propaganda da Alemanha, Joseph Goebbels, a verdadeira “Noite dos Cristais” é considerada o primeiro ataque físico da ditadura nazista contra os judeus. Foi, na prática, o prelúdio do que ficou conhecido como holocausto.

“[A ‘Noite dos Cristais’] É o marco dessa perseguição nazista, o início da destruição dos judeus. Foi a partir dessa noite que ficou claro que os judeus seriam fisicamente destruídos na Alemanha e na Áustria. Já não era mais um discurso, uma teoria; a ameaça passou a se concretizar”, prossegue Pitliuk.

A comparação de Weintraub, cujo sobrenome tem origem judaica, gerou reações negativas. Entre elas, da Confederação Israelita do Brasil (Conib). Abraham Weintraub não é judeu.

A premissa usada pelos nazistas no ataque foi uma suposta tentativa de assassinato de um jovem polonês chamado Herschel Grynszpan, de 17 anos, contra em Ernst vom Rath, um diplomata ligado à embaixada alemã na França, em 7 de setembro de 1938.

O ato de Grynszpan é atribuído ao desespero com o destino de seus pais, explica Pitliuk. Na época, milhares de judeus (aproximadamente 17 mil) foram expulsos da Alemanha e obrigados a ir para a Polônia.

“O governo alemão se aproveitou desse fato para dar início ao ataque físico contra o povo judeu”, ressaltou o escritor. Segundo ele, a investida contou com apoio de paramilitares e também de cidadãos não-judeus.

“Também pode ser considerado como um teste para saber se os alemães estavam preparados para praticar o antissemitismo com violência”, complementou Pitliuk.

A operação da PF deflagrada nessa quarta-feira alvejou aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) investigados por disseminar notícias falsas, ameaçar ministros do STF e criar uma organização criminosa conhecida como “gabinete do ódio”.

No total, foram cumpridos 29 mandados de busca e apreensão. Entre os investigados estão o empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan; o blogueiro Allan dos Santos; o ex-deputado federal Roberto Jefferson; dentre outros.

Ao comentar o assunto em uma rede social, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que faz parte do chamado “núcleo ideológico” do governo do presidente Jair Bolsonaro, disse que a operação era uma “vergonha nacional”, “o dia da infâmia”.

“Será lembrado como a Noite dos Cristais brasileira. Profanaram nossos lares e estão nos sufocando. Sabem o que a grande imprensa oligarca/socialista dirá? Sieg Heil!”, disse, em referência à saudação nazista.

“Primeiro, nos trancaram em casa. Depois, brasileiros honestos buscando trabalho foram algemados. Ontem, 29 famílias tiveram seus lares violados! Sob a mira de armas, pais viram suas crianças e mulheres assustadas terem computadores e celulares apreendidos! Qual o próximo passo?”, completou o ministro, já nesta quinta-feira (28/05).

Metrópoles