Europa só abre economias por redução de mortes de 70%
Foto: Tiziana Fabi/AFP
Os portugueses já podem ir ao cabeleireiro, os alemães conseguem visitar parentes e os franceses voltam às aulas nesta segunda-feira (11).
Isso porque apesar de terem adotado diferentes estratégias de isolamento social, os países europeus conseguiram diminuir em até 70% o número de mortos por causa da Covid-19.
Enquanto isso, o Brasil enfrenta uma alta de 200% no número de mortos, segundo levantamento da Folha que compara a situação do país com a de sete europeus —Portugal, Espanha, Itália, França, Holanda, Alemanha e Reino Unido.
Os países analisados estão em estágios diferentes do combate à pandemia, já que cada um deles registrou seu primeiro caso em uma data. A França, por exemplo, teve sua primeira confirmação em 25 de janeiro, um mês antes do Brasil. Já Portugal foi o último a ter um caso de coronavírus, apenas no dia 2 de março.
Mesmo assim, os números ajudam a entender por que os europeus começaram a flexibilizar as medidas de isolamento na última semana e planejam intensificar a reabertura até o fim de maio,
O Brasil, por outro lado, caminha em direção oposta. Na última quarta (6), quatro cidades do Maranhão se tornaram as primeiras do país a terem o “lockdown” (confinamento obrigatório). Na sequência, Belém e Fortaleza também adotaram a medida, que foi amplamente implementada nos países analisados —além do Brasil, só Holanda e Portugal não tomaram essa atitude em caráter nacional.
Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) chegou a indicar em abril que a reabertura do estado poderia começar nesta segunda, mas frente a piora nos dados deu meia-volta e na sexta (8) ampliou a quarentena no mínimo até o final do mês.
A média de mortos por dia na primeira semana de maio no Brasil é mais que o dobro da registrada na semana de 10 a 16 de abril, enquanto em todos os outros países analisados a tendência é de queda.
Na França, por exemplo, houve, em média, 900 mortos por dia na semana de 10 a 16 de abril. De 1º a 7 de maio, o número caiu para 246 (redução de 73%).
Os sete países europeus também apresentaram queda na média de casos registrados. O Reino Unido, que neste domingo (10) anunciou uma tímida flexibilização, teve a menor redução —5% em relação à média do período entre 10 e 16 de abril. A maior foi na Espanha (77%).
O Brasil, por sua vez, teve alta de 280% (de 1.770 para 6.722). Isso apesar de o Ministério da Saúde ter adotado uma política de testar apenas os casos graves, o que indica que o número real de doentes pode ser ainda maior.
Comparado a países que tiveram “lockdown”, o Brasil teve uma queda mais brusca no movimento de pessoas em locais de circulação pública já no início da epidemia.
À medida que a doença foi se espalhando, porém, os brasileiros não intensificaram o isolamento. Assim, mesmo com a alta no número de mortos, o fluxo de pessoas nas ruas tem crescido.
O comportamento foi oposto ao de franceses, espanhóis, italianos e britânicos.
Na Lombardia, região italiana mais atingida pelo coronavírus, a circulação no transporte público caiu até 92% em relação ao período anterior à quarentena, segundo dados anônimos de localização de usuários divulgados pelo Google. Em São Paulo, o índice máximo foi 71%.
A quarentena também foi mais intensa em Portugal, que não teve regras tão rígidas de isolamento social. Por lá, a taxa de óbitos por 100 mil habitantes era de 10,7 na quinta (7). É a segunda menor entre os sete países europeus.
Em primeiro lugar vem a Alemanha (8,6), que também teve regime mais flexível. Houve maior isolamento entre o fim de março e o início de abril, mas, aos poucos, o movimento foi crescendo. No fim do mês passado, já havia mais pessoas em parques, jardins e praças públicas do que antes da quarentena.
Até a quinta (7), o Brasil contava mais de 9.000 mortos, com uma taxa de 4,36 a cada 100 mil habitantes. O índice tem seu ponto mais alto no Amazonas, onde são 19,4 óbitos a cada 100 mil pessoas.
Como os números do país como um todo pioraram na última semana, a tendência é que ainda demore algum tempo até o Brasil atingir o patamar europeu, que possibilitou o início da reabertura.