Fala de Bolsonaro comprova vazamento na PF

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Foto: Reprodução

Documento que reúne mensagens extraídas do celular do ex-ministro Sérgio Moro mostra que o presidente Jair Bolsonaro, momentos antes da reunião ministerial de 22 abril, também reclamou com o auxiliar de receber informações por “terceiros”. A queixa foi feita pelo chefe do Executivo ao encaminhar vídeos de destruição de máquinas de desmatadores. “Força Nacional, Ibama, Funai… As coisas chegam para mim por terceiros… Eu não vou me omitir”, disse o presidente às 8h01m.

Pouco depois, no encontro com o primeiro escalão no Planalto, Bolsonaro voltou a reclamar de falta de informações. Na ocasião, disse que todos os serviços de inteligência são uma “vergonha” e afirmou ser abastecido por um “sistema pessoal”.

O diálogo consta do inquérito que apura suposta tentativa de interferência do chefe do Executivo na PF. Conforme o Estadão revelou, uma série de mensagens trocadas entre Bolsonaro e o Moro evidencia que o presidente falava da Polícia Federal, e não da sua segurança pessoal, quando exigiu substituições nessa área na reunião.

Em resposta ao questionamento de Bolsonaro sobre falta de informação, Moro responde: “A FN e a Funai não tem autorização para destruir equipamentos. Lamento a situação do vídeo mas eh prematuro falar em envolvimento delas no episódio. Vou checar”, respondeu às 08h13.

Às 9h03, o então ministro da Justiça volta a responder ao presidente. “Informação preliminar colhida eh de que a FN e a Funai não tem relação com quebs de maquinário e que este seria um procedimento do Ibama somente. Mas ainda checando”, disse.

Como mostrou o Estadão, no dia em que Bolsonaro exibiu imagem de seu celular para mostrar mensagens trocadas com o ex-ministro sobre uma publicação feita pelo site “O Antagonista”, com o título “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas”, o presidente acabou mostrando que havia falado sobre a atuação da Força Nacional de Segurança nas operações de combate com Ibama, no meio da floresta.

A imagem divulgada na ocasião revelou apenas uma das mensagens enviadas por Moro ao presidente, fazendo referência ao coronel Antônio Aginaldo, comandante da Força Nacional (FN) e marido da deputada federal Carla Zambelli. Moro foi padrinho de casamento dos dois.

As mensagens anteriores, que constam no inquérito Moro contra Bolsonaro, mostram que o ex-ministro se pronunciou após o presidente encaminhar vídeos e afirmar: “Força Nacional, IBAMA e Funai… As coisas chegam para mim por terceiros… Eu não vou me omitir”.

Moro responde que a Força Nacional não tem autorização para destruir equipamentos. “Lamento situação do vídeo mas é prematuro falar em envolvimento delas no episódio. Vou checar”.

Depois o ex-ministro encaminha ao presidente uma mensagem com mais informações, dizendo que a Funai não participou das ações registradas nos vídeos encaminhados por Bolsonaro.

“A destruição dos maquinários realmente tem ocorrido e se tornou uma prática efetuada pelo IBAMA. Os fiscais do IBAMA se utilizam do Decreto 6514/08 para destruição dos maquinários. A Funai não efetua essas destruições. No caso em específico, creio que bastaria a alteração da norma, mas isso não impediria o MPF de baixar alguma recomendação para a destruição do maquinário”, registra o texto encaminhada.

Logo depois Moro diz a Bolsonaro: “Do Marcelo Xavier” – indicando que o texto repassado ao presidente pode ter partido do presidente da Funai.

Por fim, o ex-juiz da Lava Jato envia a mensagem que foi revelada pelo próprio presidente, afirmando que o Coronel Aginaldo nega envolvimento nas destruições.

Como mostrou o repórter André Borges, na semana anterior à troca de mensagens o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que comanda o Ibama, exonerou o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Olivaldi Alves Borges Azevedo. A saída de Olivaldi foi diretamente relacionada a uma operação realizada na semana anterior, no Pará. Agentes de fiscalização estouraram um garimpo dentro de terras indígenas, atividade que é proibida por lei. Na ação, os fiscais do Ibama queimaram as estruturas dos garimpos e as máquinas usadas para a extração ilegal.

Estadão