Flávio Dino denuncia golpe iminente

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Foto: MARCELLO CASAL JR/ABR

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse, em entrevista ao Metrópoles, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já demonstrou ser o responsável direto pelo que chamou de “facção” que teria por objetivo defender a intervenção militar, os ataques ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF) e outras pautas que ele chamou de “exóticas”, entre elas a ideia de que a Terra seria plana.

Para o governador, o risco à democracia já está posto pelo presidente e pelo seu ministro-chefe do Gabinete de Gestão Institucional, general Augusto Heleno, que, na sexta-feira (22/05), chegou a falar em “consequências imprevisíveis”, caso o presidente seja obrigado pela Justiça a entregar seu celular nas investigações que pautam a uma possível tentativa de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. Na sequência, o próprio presidente deu um ultimato ao STF, dizendo que o ministro responsável pelo processo deveria retirar o pedido.

“Bolsonaro acaba conduzindo [o país] a um quadro de confronto e de risco democrático. É o temor que eu tenho. Bolsonaro, mais agressivo, representa um risco concreto à democracia”, avaliou o governador.

“Se analisarmos o conjunto da obra, lamentavelmente esse perigo está posto, na medida que ele, recentemente, chancelou essa ocupação miliciana e paramilitar da própria Praça dos Três Poderes e da Esplanada“, argumentou Dino.

“O presidente é o responsável direto por essa facção, que realizou esses atos e que vem se repetindo todo domingo, defendendo o fim do Congresso, o fim do Supremo, a intervenção militar, que a Terra é plana. Enfim, essas coisas exóticas que essas facções defendem”, prosseguiu o governador.

Ao avaliar a atitude de Heleno, Dino, que foi juiz, enfatizou que a manifestação do ministro pode ser enquadrada na Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83).

Dino observou que o quadro de relativa cordialidade apresentada por Bolsonaro na última reunião de governadores – que se desfez ainda na sexta-feira (22/05) após a divulgação do video com a reunião ministerial citada pelo ex-ministro Sergio Moro – se deu “mais por uma fragilidade imensa” do presidente que por “convicção”.

“Ele tem muita dificuldade no Congresso, popularidade caindo, por conta das omissões dele em relação ao coronavírus, e muito isolamento em relação aos governadores. Praticamente ninguém teve uma atitude de defesa dele. Então ele tentou, não por convicção, mas por necessidade, recompor algum tipo de diálogo. Ele está muito isolado, com uma base cada dia mais estreita e extremista. E sem ambiente com ninguém. Não tem ambiente com o Congresso, não tem ambiente com o Judiciário, não tem ambiente com o mundo empresarial, com os governadores”, avaliou.

Dino defendeu abertamente o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Para ele, já existe uma série de ações e omissões praticadas pelo mandatário da República que justificam a abertura do processo de impeachment na Câmara.

O governador, no entanto, acha que não é o caso de o STF determinar a análise dos pedidos por parte do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

“Seria no mínimo precoce uma decisão dessas no STF, uma vez que, por ser uma decisão grave, o presidente da Câmara deve ter um período para reflexão. É evidente que ele não pode ficar com isso eternamente”, ponderou.

“A demora do Rodrigo Maia em dizer sim ou não até o presente momento é compreensível e juridicamente razoável”, enfatizou

O governador ainda analisou que a própria circunstância de pandemia que o Brasil enfrenta, com a necessidade de isolamento social, acaba dando uma sobrevida a Bolsonaro, apesar de tê-lo exposto.

“A pandemia do Coronavírus deixou Bolsonaro exposto para centenas de milhões de pessoas que não o conheciam verdadeiramente. Mas também, paradoxalmente, é o que o protege agora. A pandemia é péssima para ele porque o expôs em suas insuficiências técnicas, em sua ineficiência e em sua irresponsabilidade, tudo que quem acompanha o Bolsonaro sempre soube que seria assim. Mas ele construiu uma outra ideia, de que seria uma pessoa que iria liderar mudanças no país. A pandemia revelou que ele não tem a menor noção de rigorosamente nada. Isso deteriorou muito fortemente a base política e social dele”, prosseguiu.

“Paradoxalmente, neste instante a pandemia faz com que não seja possível haver manifestações, protestos, exatamente porque não pode haver aglomeração. Mas isso é temporário. Daqui a dois meses, essa condição deixará de existir, mas os efeitos das condutas de Bolsonaro serão permanentes”, disse Dino.

Flávio Dino enfatizou, ainda, a falta de coordenação da equipe econômica na gestão da crise que, a seu ver, resultará em falências em massa.

“Existe uma ausência de visão sobre o que fazer com a economia. Eles estão em desespero. As providências já deveriam estar sendo tomadas e o que se vê, de um modo geral, é muita inércia do governo também no plano econômico. Só para se ter uma ideia, decorridos dois meses da crise, é que eles se deram conta que não tem crédito real, verdadeiro, para micro e pequenas empresas. Eles estão diante da possibilidade de centenas de milhares de falências simultâneas, o que será um desastre para a economia e para o mercado de trabalho”, enfatizou Dino.

“Já se tem dois meses de crise para eles percebem o óbvio: que se não houver crédito real na mão de micro e pequenas empresas, vai quebrar todo mundo. E vão quebrar não por causa de decreto de governadores, mas por conta do vírus. Bolsonaro ficou várias semanas na falácia de que o problema econômico derivava dos decretos. O problema da economia deriva do vírus”, observou.

“As pessoas não vão retornar ao padrão de consumo no dia seguinte a eventual revogação de decretos. Existe a incerteza, risco de desemprego, queda da renda, famílias endividadas, desabastecimento de alguns setores”, concluiu.

Metrópoles